Mortes por câncer de próstata têm alta de 48% em três anos

Quarenta homens morreram de câncer de próstata no Rio Grande do Norte em 2025 até este mês de novembro, de acordo com o Ministério da Saúde. O número é 48% maior que o registrado em 2022, quando 27 potiguares foram vitimados pela neoplasia. O aumento na mortalidade reforça a urgência da prevenção e do diagnóstico precoce, já que este é o segundo tipo de câncer mais comum entre os homens brasileiros e um dos principais responsáveis por mortes no país.
De acordo com estimativas do Instituto Nacional de Câncer (Inca), um em cada sete homens será diagnosticado com a doença ao longo da vida. A cada oito minutos, um novo caso surge no Brasil. A cada 40 minutos, um homem morre vítima do câncer de próstata — mesmo sendo um dos tipos mais curáveis quando descoberto cedo, com chances que chegam a 90%.
Segundo dados do Ministério da Saúde, a maior parte das mortes está concentrada nos municípios de Mossoró e Natal. Juntas, as duas cidades somaram 38 dos 40 óbitos registrados em 2025. Mossoró registrou 21 mortes neste ano, enquanto Natal teve 17.
No Rio Grande do Norte, o cenário segue a tendência regional e nacional. Segundo o urologista Will Kamayo, da Liga contra o Câncer, o estado tem registrado aumento de diagnósticos. “O Nordeste concentra cerca de 22,7% dos casos de câncer de próstata do país, com uma incidência estimada em 73,28 por 100 mil habitantes. Temos observado um crescimento no número de casos, impulsionado principalmente pelo envelhecimento da população e pela ampliação do rastreamento”, explica.
Mortalidade preocupa
Mesmo com avanços no diagnóstico, o número de mortes continua elevado. “A mortalidade por câncer de próstata representa 28,6% das mortes por câncer em homens no Brasil, totalizando cerca de 15 mil óbitos por ano”, afirma Kamayo. No Rio Grande do Norte, o especialista destaca que os fatores são semelhantes aos do resto do país: diagnóstico tardio, baixa adesão aos exames preventivos e dificuldade de acesso a tratamento especializado, especialmente fora da capital.
A falta de estrutura ainda é um obstáculo para muitos potiguares. Em Natal, a oferta é maior, mas no interior a realidade é diferente. “Há concentração de hospitais e especialistas na capital. No interior, o acesso é mais limitado e muitos pacientes precisam viajar longas distâncias para realizar consultas, exames e tratamento”, destaca o urologista.
Mesmo com o Sistema Único de Saúde disponibilizando o exame de PSA, outros passos essenciais — como consulta com urologista, toque retal, ressonância e biópsia — ainda enfrentam filas e demora. “Isso atrasa o início do tratamento e reduz a chance de cura”, alerta.
Sintomas aparecem tarde
O grande risco do câncer de próstata é o silêncio: na fase inicial, não costuma apresentar sintomas. Quando sinais surgem, geralmente a doença já está avançada. Entre eles: dificuldade para urinar, jato fraco, vontade frequente de urinar, sangue na urina ou no sêmen e dor óssea.
Por isso, os exames preventivos são fundamentais. “O PSA, feito por sangue, e o toque retal são simples e permitem detectar alterações antes mesmo dos sintomas”, explica o urologista Rodrigo Trivilato, membro da Sociedade Brasileira de Urologia (SBU). “Quanto mais cedo diagnosticar, maior a chance de cura, podendo chegar a 90%.”
No entanto, segundo a SBU, dois terços dos homens com mais de 40 anos nunca realizaram o toque retal e metade nunca fez o PSA — um reflexo direto da barreira cultural e do preconceito.
Tabus ainda matam
A relutância masculina em procurar atendimento é apontada como fator agravante. Para a terapeuta integrativa Suzy Reigado Ferreira, o machismo ainda impede muitos homens de realizar o exame, que dura cerca de cinco segundos. “Alguns associam o procedimento a perda da masculinidade. Outros preferem não saber se têm a doença. Esse preconceito pode ser fatal.”
A especialista destaca que a campanha Novembro Azul é fundamental para quebrar resistências e incentivar consultas anuais. Ela afirma que a saúde deve ser tratada de forma integral — física e emocional — e que o adoecimento, em muitos casos, carrega também histórico de estresse, negação e abandono do autocuidado. Como complemento ao tratamento médico, Suzy aponta terapias como a arteterapia e a mandalaterapia, que auxiliam no controle da ansiedade e no bem-estar. Esse tipo de abordagem, reforça, não substitui o tratamento médico tradicional.
Há como prevenir?
Não existe método garantido de prevenção, mas é possível reduzir riscos gerais: alimentação equilibrada, atividade física, controle do peso, evitar álcool em excesso e não fumar. A doença é mais comum a partir dos 50 anos, porém homens com histórico familiar devem iniciar o acompanhamento antes.
Tratamento
A escolha depende do estágio do tumor e das condições do paciente. Entre as opções estão vigilância ativa, cirurgia para retirada da próstata, radioterapia, hormonioterapia e quimioterapia. “A decisão é individualizada e considera a segurança e a qualidade de vida do paciente”, explica Trivilato.
Especialistas são unânimes: o maior aliado contra o câncer de próstata é o diagnóstico precoce. E isso depende de uma única atitude — procurar o médico.
Marline Negreiros, do NOVO Notícias
