Na esteira das apostas online, busca por atendimento psicossocial explode no RN

Postado em 9 de dezembro de 2025

O mercado de apostas online movimenta R$ 20 bilhões por mês no Brasil, segundo dados do Banco Central, e acende o alerta do impacto na saúde mental da população. Um dos reflexos dos transtornos causados pela compulsão em apostas esportivas está no aumento da procura por atendimentos psicossociais no Sistema Único de Saúde (SUS). Em 2025, entre os meses de janeiro e setembro, foram registrados 126,9 mil atendimentos ambulatoriais de procura por assistência psicológica no Rio Grande do Norte.

Os atendimentos psicossociais são voltados para casos de sofrimento psíquico ou problemas com uso de álcool e outras drogas, além do vício em jogos e apostas. De acordo com o Ministério da Saúde, a doença está classificada em duas categorias: CID 10-Z72.6 (mania de jogos e apostas) e CID 10-F63.0 (jogo patológico).

No Rio Grande do Norte, segundo dados oficiais, houve aumento de 81% nos atendimentos psicossociais entre 2015 e 2025. O total de procedimentos saltou de 69.933 em 2015 para 126.994 neste ano.
Este ano, o levantamento aponta que 25% dos atendidos estão na faixa etária entre 40 e 49 anos; além disso, 60% dos pacientes são homens.

Natal e Mossoró concentram quase 25% de todos os atendimentos no estado. As unidades de saúde de Mossoró receberam 19.809 atendimentos nos primeiros nove meses do ano, enquanto Natal somou 10.882.

Em razão do aumento nas buscas por atendimento psicossocial, o Ministério da Saúde criou o Observatório Saúde Brasil de Apostas Eletrônicas, um canal de troca de dados para monitorar o problema e facilitar o acesso ao tratamento no SUS.

A partir do dia 10 de dezembro, estará disponível uma ferramenta de autoexclusão centralizada.

O recurso permitirá bloquear o acesso a todos os sites autorizados, impedir novos cadastros com o CPF e suspender a publicidade. A plataforma também oferecerá orientações sobre onde buscar ajuda na rede pública.

O Ministério da Saúde lançou, ainda, a Linha de Cuidado para Pessoas com Problemas Relacionados a Jogos de Apostas. O documento traz orientações clínicas para atendimento presencial e online. A partir de fevereiro de 2026, o SUS ofertará teleatendimentos focados no tema, em parceria com o Hospital Sírio-Libanês, com previsão inicial de 450 consultas mensais.

O ministro Alexandre Padilha classificou a ação como um passo histórico para identificar comportamentos de risco e oferecer acolhimento. Fernando Haddad destacou que a medida protege crianças, jovens e adultos, oferecendo caminhos reais de apoio para quem desenvolveu dependência.

O atendimento será realizado em Unidades Básicas de Saúde, CAPS, UPAs e hospitais gerais. O governo também abriu inscrições para qualificar 20 mil profissionais da rede. O investimento em saúde mental cresceu 70% desde 2022, alcançando R$ 2,9 bilhões em 2025.

Mercado de apostas

Levantamento do Banco Central aponta que os brasileiros desembolsaram cerca de R$ 20 bilhões mensais. O valor médio das transferências cresce substancialmente conforme a idade, variando de R$ 100 entre os jovens a mais de R$ 3.000 mensais no público mais velho.

Estima-se que aproximadamente 15% do total apostado fica retido nas empresas, com o restante sendo distribuído aos ganhadores a título de prêmio.

Até o primeiro semestre de 2025, segundo dados do Sistema Geral de Gestão de Apostas (Sigap) do Ministério da Fazenda, 17,7 milhões de brasileiros que fizeram pelo menos uma aposta online. Deste total, 71% são homens e 28,9% são mulheres.

O ministro Kassio Nunes Marques, do Supremo Tribunal Federal (STF), suspendeu todas as leis e decretos municipais que autorizam o funcionamento de loterias e bets no país. A decisão paralisa também as licitações decorrentes dessas legislações. A medida atende a uma ação ajuizada pelo partido Solidariedade.

O magistrado estabeleceu multa de R$ 500 mil para municípios e empresas que descumprirem a ordem, e de R$ 50 mil para prefeitos e gestores. A liminar será submetida a referendo do Plenário Virtual em sessão extraordinária. Nunes Marques afirmou que a arrecadação de recursos não justifica a criação dessas loterias, citando o “potencial nocivo” das apostas.

O ministro classificou como uma “aberração jurídica e financeira” a operação de casas de apostas locais sem supervisão federal. Ele argumentou que a legislação municipal não retira essas atividades da clandestinidade quando não atendem aos critérios do Ministério da Fazenda.

A decisão cita nominalmente legislações de municípios do Rio Grande do Norte, como Bodó, Encanto, Itajá, Lajes Pintadas e Messias Targino. Em Bodó, a LotSeridó movimentou cerca de R$ 415 milhões em apenas 10 meses, chamando a atenção do Ministério Público Estadual, que já investiga o caso e ajuizou ações contra diversas prefeituras.

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