Negros são 87% dos mortos pela polícia de oito estados em 2022

Postado em 17 de novembro de 2023

De 4.219 pessoas mortas pelas polícias de oito estados brasileiros em 2022, 2.700 eram negros (pretos e pardos), o que representa 65,7% das mortes. Considerando apenas as pessoas que tiveram cor/raça declarada, a proporção de negros mortos sobe para 87,4%. Os dados são do estudo Pele Alvo: a Bala não Erra o Negro, realizado pela Rede de Observatórios da Segurança, do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec), e divulgado nesta quinta-feira (16/11).

O levantamento é baseado em estatísticas fornecidas pelas polícias do Rio de Janeiro, de São Paulo, da Bahia, de Pernambuco e do Ceará, Piauí, Maranhão e Pará. A pesquisa constatou que a polícia baiana foi a mais letal no ano passado, com 1.465 mortos (1.183 tinham cor/raça informada). Desse montante, 1.121 eram negros. Além disso, 74,21% das pessoas mortas na Bahia tinham entre 18 e 29 anos.

O segundo estado com mais letalidade policial contra negros é o Rio de Janeiro, com 1.042 mortos. Em seguida aparece Pernambuco, com 631 mortes. Segundo o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC), Pablo Nunes, a maior incidência de mortes de negros em abordagens policiais é influenciada pelo racismo estrutural.

“Os negros são a grande parcela dos mortos pelos policiais. Quando se comparam essas cifras com o perfil da população, vê-se que tem muito mais negros entre os mortos pela polícia do que existe na população. Esse fator é facilmente explicado pelo racismo estrutural e pela anuência que a sociedade tem em relação à violência que é praticada contra o povo negro”, disse Pablo, à Agência Brasil.

Um outro dado que chamou a atenção dos pesquisadores do estudo é a subnotificação da informação racial, pois das 4.219 ocorrências policiais do período analisado, um em cada quatro não tinha a declaração sobre cor. Esse cenário foi observado principalmente no Maranhão, no Ceará e no Pará. Nesse sentido, segundo a pesquisa, o número de mortes de pessoas negras por violência policial pode ser maior que o divulgado, por causa da falta ou escassez de informações de raça/cor em muitos estados.

“A dificuldade de ser transparente com esses dados também revela outra face do racismo, que é a face de não ser tratado com a devida preocupação que deveria. Se a gente não tem dados para demonstrar o problema, a gente ‘não tem’ o problema e, se ‘não há’ problema, políticas públicas não precisam ser desenhadas”, avalia o coordenador do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (CESeC).

Correio Braziliense.