O governador de Minas Gerais, Romeu Zema ( Novo) conseguiu algo surpreendente: a união de governadores contra o que ele, Zema, disse.
Liguei para o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) para saber sobre o frisson do fim de semana. As repórteres Andreza Matais e Monica Gugliano tomaram café com croissant com o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo). Foi quando Zema falou do Cosud.
Cosud? Nome estranho que me fez lembrar de outro que é pérola do dialeto goiano: cafubira. Cafubira é aquela coceira que ninguém aguenta. Mineiros também falam cafubira. Aliás, dizem que goiano é mineiro cansado, ou vice-versa, dependendo de quem estiver falando.
Cosud não coça, mas deu gastura.
Na entrevista ao Estadão, Zema apresentou o tal Cosud, Consórcio Sul – Sudeste, como um grupo de sete governadores que, segundo ele, busca protagonismo econômico e político. “Outras regiões do Brasil, com Estados muito menores em termos de economia e população se unem e conseguem votar e aprovar uma série de projetos em Brasília.”
Separatismo em 2023, Brasil?
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil) disse que Zema não foi feliz e deveria explicar o mal-entendido. Caiado é crítico de primeira linha de pontos cruciais da Reforma Tributária, mas alertou: “não se pode promover clima de guerra de secessão. Tem que ter muito cuidado com o sentimento de cada um por si e Deus por todos.”
Goiás é um estado em pleno crescimento econômico. O agro triunfa. As férias no rio Araguaia refletem a opulência goiana. Agora em julho, às margens do rio, o local destinado a um heliponto parecia estacionamento de shopping em véspera de Natal. Lotado, não de carros, mas de helicópteros. Caiado teme que a reforma tributária engesse o crescimento do Estado.
Mesmo antes da votação da reforma tributária na Câmara dos Deputados, Caiado já tinha marcado posição contra o texto, temia perder autonomia e arrecadação: “não queiram dizer a mim, eleito pelo voto, que eu viva de mesada”. Ainda assim, sempre fala em solução com harmonia entre Estados.
Zema conseguiu unir políticos de diferentes vertentes, uma união federativa contra o que ele disse. Governadores do Nordeste foram às redes sociais:
Rafael Fonteles do Piauí (PT) disse que Zema “era o maior inimigo da federação.” Carlos Brandão, do Maranhão (PSB) falou que “ódio e divisão não tornarão o país melhor. “
Com tamanha repercussão negativa, Zema se explicou, disse que “o Cosud, a união do Sul e Sudeste jamais será para diminuir outras regiões.”
Não colou. Ele se isolou.
A Reforma Tributária está no escaninho do Senado. O texto traz dúvidas e incertezas que incentivam Zema e outros a brigar por mudanças. Ninguém quer correr risco de perder arrecadação, muito menos poder. A reforma prevê o IBS para englobar o ICMS e o ISS e a CBS, para substituir IPI, PIS COFINS. Qual alíquota? Ainda não se sabe.
“Cosuders”, governadores que fazem parte do Consórcio Sul Sudeste e não “cosuders”, governadores de outras regiões, querem dar pitaco na composição do Conselho Federativo, um órgão que deve centralizar a arrecadação e divisão do futuro IBS.
A Reforma Tributária está sendo revista com lupa e sem pressa no Senado.
Senadores receberão reclamações do setor de serviços, que se sentiu prejudicado, de profissionais liberais, até de pequenas empresas.
Uma das preocupações é que, com pressões daqui e dali, a reforma deixe o sistema tributário ainda mais pesado. Essa, sim, deve ser a cafubira de governadores de todas as regiões e de nós, caros contribuintes, incluindo os mineiros. Todos unidos para não pagarmos ainda mais impostos no nosso Brasil.
Estadão