Oito em cada dez brasileiros defendem regras para proteger crianças nas redes sociais

Oito em cada dez brasileiros apoiam a criação de regras para regular o ambiente digital e proteger crianças e adolescentes nas redes sociais. É o que revela uma pesquisa do Projeto Brief, divulgada nesta quinta-feira (11). O assunto, segundo os pesquisadores, rompe a barreira da polarização: 73% dos eleitores de Jair Bolsonaro e 90% dos de Luiz Inácio Lula da Silva defendem a regulamentação.
O estudo, que ouviu 1.800 pais e mães de crianças de até 18 anos, durante o mês de outubro, indica que o debate sobre a chamada “adultização” — a exposição precoce de menores a conteúdos impróprios — ganhou força após casos recentes que expuseram a ausência de proteção digital no país. O caso mais emblemático foi revelado pelo criador de conteúdo Felca.
Mas o debate também revela um dilema: embora enxerguem os riscos online, a maioria das famílias não sabe como enfrentá-los.
Famílias expostas, pais desamparados
De acordo com os dados, 77% das crianças e adolescentes têm celular próprio, índice que chega a 92% entre jovens de 13 a 18 anos. E mesmo entre crianças de 8 a 12 anos, 63% já possuem o próprio aparelho. O uso é expressivo: 53% passam mais de três horas por dia conectados, e um em cada quatro ultrapassa cinco horas diárias.
No entanto, mesmo com essa hiperconectividade, a proteção é frágil. Apenas 37% dos pais sabem usar ferramentas de controle parental, enquanto 45% já ouviram falar, mas não utilizam, e 18% nunca tiveram contato com o termo.
O resultado é um cenário preocupante:
- 21% das crianças relataram situações desconfortáveis online;
- 8% sofreram assédio, abuso ou ataque direto — índice que dobra entre meninas de 13 a 15 anos;
- 46% dos pais afirmam que os filhos apresentam ansiedade, irritabilidade ou dificuldade de foco devido ao tempo de tela.
A sensação dominante entre os pais, segundo a análise qualitativa da pesquisa, é solidão. A frase “pais não deveriam se sentir sozinhos nessa luta” teve concordância de 82,5% dos entrevistados.
Influenciadores têm mais responsabilidade que escolas, dizem pais
Ao serem perguntados sobre quem deve proteger crianças e adolescentes nas redes, os pais revelam um deslocamento no papel de referência educacional para o ambiente digital. Influenciadores digitais aparecem como mais responsáveis (37%) do que escolas e professores (32%).
A hierarquia de responsabilidade, segundo os entrevistados, é:
1. Pais e mães (82%)
2. Plataformas digitais (76%)
3. Governo (61%)
4. Influenciadores (37%)
5. Escolas (32%)
ECA Digital ainda é desconhecido pela maioria
Mesmo após a aprovação, na Câmara, do PL 2.638, que obriga plataformas a oferecer ferramentas de controle parental e retirar conteúdos perigosos sem necessidade de decisão judicial, a nova legislação ainda não chegou ao vocabulário popular.
Apenas 36% dos entrevistados já ouviram falar do ECA Digital. Entre eles:
- 52% sabem do que se trata;
- 31% acham que é um aplicativo;
- 11% acreditam ser uma campanha de ONGs;
- 6% acham que é uma política criada pelas próprias plataformas.
A pesquisa conclui que a discussão sobre adultização funciona como um “fio emocional” capaz de conectar debates sobre regulação, bem-estar e responsabilidade das grandes plataformas. E sugere que campanhas públicas, comunicação clara e o engajamento de influenciadores são essenciais para mudar a cultura digital no país.
“A legislação avançou, mas a consciência social ainda não”, resume o relatório.
sbt
