ONU diz que serão necessários 300 anos para alcançar igualdade de gênero no mundo.
O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, fez ontem, antevéspera do Dia Internacional da Mulher, um alerta preocupante. Segundo ele, numa análise do cenário mundial, serão necessários três séculos para alcançar a igualdade de gênero no mundo. “Avanços obtidos em décadas estão evaporando diante de nossos olhos”, advertiu o diplomata português na abertura de uma reunião da Comissão sobre a Situação da Mulher da ONU focada na brecha tecnológica entre os gêneros.
“No ritmo atual, a ONU Mulher prevê que serão necessários 300 anos (para a paridade)”, destacou Guterres, após lembrar da situação no Afeganistão, onde mulheres e meninas têm sido “apagadas da vida pública”. O chefe das Nações Unidas assinalou também que os direitos reprodutivos e sexuais da mulher em muitas partes estão “em retrocesso”.
Guterres indicou ainda que a pandemia de covid-19 e conflitos armados — como a invasão da Ucrânia pela Rússia e os combates na região africana do Sahel — atingiram e seguem afetando “em primeiro lugar” as pessoas do sexo feminino. Mesmo em países que não estão em guerra, observou, os riscos de sequestros e ataques, inclusive pela polícia, são especialmente mais frequentes para mulheres.
Misoginia
“O patriarcado contra-ataca, mas responderemos”, afirmou Guterres, assegurando que a ONU “permanece ao lado das mulheres e meninas de todo o mundo”. Ele também denunciou movimentações no mundo virtual para desqualificar mulheres. “A desinformação misógina e as mentiras nas redes sociais têm o objetivo de silenciar as mulheres e obrigá-las a sair da vida pública”, opinou.
“As histórias podem ser falsas, mas o dano é muito real”, apontou, ao fazer um apelo pela mudança dos “marcos internacionais, que não estão adaptados às necessidades e aspirações das mulheres e meninas”. E acrescentou que há países que são “contra a inclusão da perspectiva de gênero em negociações multilaterais”.
Especificamente sobre o tema da reunião, Guterres frisou que promover as contribuições da mulher na ciência, tecnologia e inovação “não é um ato de caridade ou um favor”. Com seu acesso a serviços médicos on-line, bancos e recursos financeiros, plataformas digitais seguras e à tecnologia em geral, os benefícios, de acordo com ele, “são para todos”.
“Sem a perspicácia e a criatividade de metade do mundo, a ciência e a tecnologia realizarão apenas metade de seu potencial”, enfatizou Guterres. Ele estimou que das 3 bilhões de pessoas ainda não conectadas à internet, a maioria é de mulheres e meninas em países em desenvolvimento.
Correio Braziliense