Pacientes utilizam toxina botulínica para alívio temporário da dor crônica
Descoberta no século 19 pelo bacteriologista belga Emile Van Ermangen, o microrganismo Clostridium botulinum, bactéria encontrada em alimentos crus e estragados, foi isolado e a toxina botulínica detectada. No mercado estético, seu uso é comumente associado à prevenção de rugas faciais. No entanto, pacientes neuro, oftalmo, endócrino e dermatológicos podem encontrar tratamentos terapêuticos que diminuem dores e corrigem desequilíbrios.
“O Botox [nome comercial da toxina] é um tratamento que se baseia no bloqueio neuromuscular. Ele inibe a liberação de um neurotransmissor responsável pela contração dos músculos, ou então dos neurotransmissores que carregam informação de dor para o cérebro”, dizo neurologista Renan Domingues, que atende casos de enxaquecas crônicas, ou seja, dores de cabeça que duram mais de 15 dias por mês.
De acordo com Thais Silveira, chefe do setor de oftalmologia pediátrica, estrabismo e visão subnormal do Instituto Carioca de Olhos, no Rio de Janeiro, o primeiro uso terapêutico da toxina botulínica foi na oftalmologia para o tratamento de estrabismo e blefaroespasmo (também conhecido popularmente como tremor involuntário nas pálpebras).
“A toxina botulínica pode ser usada em alguns tipos de estrabismo, em qualquer idade, e ser tanto um tratamento definitivo, principalmente nas paralisias oculares, como um coadjuvante, ou seja, associada a um processo cirúrgico onde é necessário um relaxamento maior da musculatura”, afirma.
Pacientes com bruxismo também encontram alívio com aplicações semestrais em músculos da face e cabeça. Administrado por cirurgiões buco-maxilo faciais, diminui a potência dos músculos da mastigação, e pode ser visto como um tratamento coadjuvante, associado ao uso da placa dentária.
“O bruxismo, na verdade, tem que ser entendido como primário e secundário, onde o primário é uma resposta neurológica do cérebro, e faz com que o paciente tenha esse impulso nervoso sem motivo aparente. Agora, o bruxismo secundário resulta de fatores que vão desencadear o bruxismo”, define o mestre e doutor em cirurgia e traumatologia buco-maxilo facial Alexandre Silva, se referindo a problemas como hipertrofia adenóide, comum em crianças, a respostas do corpo a episódios de apneia e refluxo gastroesofágico.
“Em casos associados ao estresse, além da toxina botulínica e da placa dentária, é interessante buscar métodos de controle, como uma terapia, um ansiolítico ou uma atividade física em paralelo”, diz Silva.
A empresária Ana Dias recorreu à aplicação após deixar duas placas de silicone inutilizáveis. “Tentei algumas terapias alternativas para diminuir o apertamento dos dentes –acupuntura, massagem, meditação, usar a língua como obstáculo. O que realmente funcionou para mim foram as injeções musculares aliadas a uma rotina saudável “, afirma.
A neurologista Thais Villas afirma as enxaquecas crônicas são responsáveis por 90% dos casos que levam o paciente a procurar seu consultório para o tratamento e alerta para as contra-indicações.
“Pacientes que tenham doenças musculares, afinal o Botox tem uma ação neurológica na enxaqueca. Esperamos uma ação nos nervos trigêmeos, que são os nervos da cabeça, que na enxaqueca trazem o sintoma de cefaleia. Porém, existem pacientes que têm outras doenças neurológicas de fraqueza muscular, como, por exemplo, a miastenia gravis. A toxina botulínica causa um relaxamento da musculatura, o que não é indicado para pacientes que têm uma musculatura flácida.”
Folha de São Paulo