Por que os carros têm menor autonomia com etanol do que com gasolina?
Uma dúvida muito frequente entre motoristas no momento de abastecer o carro é qual combustível utilizar e o que mais pesa na decisão final é o preço. Segundo dados divulgados pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), a média do preço nacional do etanol é de R$ 3,58 e a da gasolina é R$ 5,74.
Sempre que o preço da gasolina aumenta, o valor do álcool também sobe. O combustível feito a partir da cana-de-açúcar é sempre mais vantajoso quando o seu valor por litro não ultrapassa em 70% o valor do petróleo. Porém, é só o valor que pesa nessa decisão?
Segundo os dados do Inmetro, o carro com motor 1.0 mais econômico do Brasil possui um consumo na cidade de 10,8 km/l com etanol e de 15,8 km/l na gasolina. Apesar de ser o mesmo veículo, a margem de cinco quilômetros de autonomia entre os dois combustíveis não passa despercebida.
O diretor de combustíveis da SAE Brasil (Society of Automotive Engineers), Rogério Gonçalves, explica o porquê se roda menos com etanol no tanque do que com a gasolina.
“Isso é uma característica termodinâmica do etanol, uma característica físico-química dele. O álcool tem 70% do poder calorífico da gasolina. O que isso significa? A gasolina tem 30% a mais de energia que o etanol. Por isso que quando você enche um tanque com gasolina, tem mais autonomia do que encher com álcool”
Outra diferença dos dois combustíveis é o quanto de potência eles geram no motor. Mantendo como exemplo um Renault Kwid, o veículo possui 70 cavalos no álcool e 66 cavalos na gasolina.
Essa diferença de desempenho do motor se deve ao quanto o etanol e a gasolina resistem à detonação durante a combustão, chamado de nível de octanagem. Quanto maior a octanagem, mais difícil a queima. Enquanto a da gasolina é próximo de 92 octanas, o etanol possui 110 octanas.
“O principal parâmetro é a taxa de compressão do motor, é o quanto o motor consegue comprimir essa mistura para gerar a combustão. Quanto maior a compressão, mais potência você consegue. O etanol precisa de uma taxa de compressão muito maior do que a gasolina, por isso que se tem um ganho de potência. Isso por causa da octanagem, que é o poder antidetonante do combustível, o quanto ele aguenta ser comprimido na combustão”, explicou.
Segundo Gonçalves, esse ganho também se deve na forma como o carro é projetado.
“Esse ganho de potência é relacionado com o projeto do carro. Se o carro for projetado para andar só com gasolina, o motor é otimizado para andar só com gasolina. Um motor que só andar com etanol é a mesma ideia. Agora, em um carro flex, que anda com os dois e até a mistura dos combustíveis, isso é um desafio para a indústria automobilística. O que acontece nesse caso, é que o motor é calibrado para andar tanto com gasolina quanto com etanol, e isso gera uma condição um pouco mais favorável para o álcool”, complementa.
No fim, a escolha do consumidor sempre fica por conta do preço. Com o etanol, é possível rodar menos, ter um pequeno ganho de potência no carro e pagar mais barato pelo litro do combustível. Já com a gasolina, as visitas aos postos vão ser menos frequentes, ter uma pequena perda de força no carro e o litro é um pouco mais caro.
Combustível aditivado
Os aditivos são produtos químicos adicionados à gasolina e ao etanol, que agem para manter a limpeza do motor, prolongar a vida útil dos componentes e aumentar a eficiência sem prejudicar o consumo do veículo.
“O processo de combustão do motor, independente do combustível, é um processo de queima. Essa queima deixa resíduos, não tem jeito. Com o tempo, é preciso fazer limpeza de bicos, linhas e trocar filtros. Colocando gasolina aditivada ou etanol aditivado, você estende esse período de manutenção do veículo”.
Os postos do país possuem três tipos de gasolina à venda, a comum, a aditivada e a premium. Além da comparação entre o etanol, a diferença entre os três tipos também não está apenas no preço da bomba.
“A gasolina aditivada e a comum são a mesma gasolina, a única coisa que muda é presença de aditivo. As duas possuem todas as características físico-químicas iguais. Já as gasolinas premium possuem uma octanagem maior. Então, os carros que têm uma taxa de compressão maior, podem aproveitar melhor essa gasolina, como os carros esportivos e os de luxo”, finaliza Rogério Gonçalves.
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