PRF flagrado trabalhando para Comando Vermelho afirma que facção paga “micharia”

Os dois policiais rodoviários federais investigados pela Polícia Federal (PF) por tráfico interestadual de drogas reclamaram do valor que receberiam para transportar entorpecentes para o traficante José Heliomar de Souza, conhecido como Léo e apontado pela PF como mentor intelectual, coordenador e líder da organização criminosa sediada em Porto Velho, Rondônia.

Os agentes da PRF Diego Dias Duarte (vulgo Robocop) e Raphael Ângelo Alves da Nóbrega cobravam até R$ 2 mil por quilo de cocaína para fazer o transporte da droga para o Comando Vermelho (CV) no Ceará. Raphael é investigado desde a época em que foi lotado no Rio Grande do Norte.

No dia 18 de dezembro, Raphael pergunta para Diego qual “estratégia” ele estava pensando para transportar, porque não estava se sentindo estimulado. No áudio transcrito pela Polícia Federal, Raphael volta a reclamar do valor do serviço.

“Me diga aí qual a sua estratégia, para ver se me estimula aqui, porque ali está uma micharia [sic], cara”.

Segundo a reportagem do Metrópoles, que divulgou as mensagens, no caso de Rafael Angelo, ele chegou a ser preso em flagrante em julho de 2023 transportando 542 kg de cocaína em Canarana, no Mato Grosso, a 823 quilômetros de Cuiabá. Na ocasião, o PRF capotou a caminhonete que pilotava com as drogas, tentou empreender fuga em um táxi, mas foi rendido.

Naquele tempo, Raphael Angelo já era investigado por tráfico de drogas e trabalhava lotado na unidade da PRF em Natal, no Rio Grande do Norte. No curso das investigações, a PF identificou que ele recebeu um Jeep Compass como forma de pagamento pelo transporte de drogas.

Em relação a Diego Duarte, ele está atualmente lotado na PRF da Bahia, mas já trabalhou na cidade de Guajará-Mirim, em Rondônia, na fronteira com a Bolívia. Diego foi preso no último dia 7 no âmbito da Operação Puritas. A Polícia Federal apreendeu na casa dele, em Feira de Santana, um cofre com R$ 580 mil e US$ 8,1 mil de dinheiro em espécie.

INVESTIGAÇÃO

A quebra do sigiloso telefônico e telemático dos investigados apontou conversas nas quais eles negociavam o valor da “missão” e elaboravam estratégias para não serem pegos transportando a droga nas rodovias do país. A informação consta em diálogos obtidos pela PF, aos quais a coluna teve acesso.

Por ser véspera de Natal, eles falam sobre adiar a entrega para janeiro e afirmam que “toda semana aparece oportunidade”. Em uma das conversas por WhatsApp, ocorrida entre os dias 17 e 19 de dezembro de 2021, os dois PRFs consideram “baixo” o valor de R$ 35 mil para transportar 70 kg de cocaína. Para eles, o mínimo teria que ser R$ 1,5 mil por quilo da droga, ou seja, R$ 105 mil.

Raphael Ângelo escreve para Diego afirmando que “desta vez não rola” fazer o transporte da droga por menos de R$ 2 mil. Em outra mensagem, afirma que aceitaram fazer o serviço anteriormente no valor menor para “fechar a parceria”.

Diego responde o colega afirmando que “tá ruim mesmo”. Em seguida, fala que seu plano é comprar um carro em Porto Velho (RO) e dirigir o veículo sem placa mesmo. Raphael elogia a ideia do parceiro. “É uma boa.”

No mesmo dia, Raphael também diz a Diego que Heliomar, o chefe da organização criminosa, “está apertando” para que eles façam o frete mesmo assim, porque isso “abriria portas” aos dois.

96fm

Postado em 19 de novembro de 2024