Rayssa abraça a mãe, reúne multidão, fala em inglês e ganha o bronze ao som de Djavan em Paris

PARIS – Paciente, uma jornalista americana esperou mais de uma hora para falar com Rayssa Leal . A profissional era a única da imprensa estrangeira posicionada para ouvir a brasileira depois de ela levar a medalha de bronze nas Olimpíadas de Paris. Foi recompensado.

Rayssa foi gentil. Depois de comemorar a medalha com um abraço na mãe, atendemos a uma multidão de voluntários e fãs que pediram fotos e autógrafos e pararam a cada passo, um adolescente deu entrevista em inglês ao jornalista. Contou ter se sentido feliz, é claro, por ter faturado sua segunda medalha olímpica aos 16 anos, o que a fez ser o atleta mais nova da história a registrar o feito.

Minutos depois, um jovem parou para falar com a imprensa brasileira. Simpática, calma e muito mais acostumada com o bônus e ônus de ser uma estrela, a maranhense de Imperatriz contornou o que mudou nela em três anos, desde a prata em Tóquio até o bronze em Paris.

“Mudou tudo. Só no primeiro ano eu cresci 10 centímetros”, disse. “Entendi o peso das Olimpíadas. Vim para Paris com outra mentalidade, outro foco. Todos queriam o ouro, eu não era diferente. Por isso eu acabei me cobrando um pouco mais, mas deu tudo certo”.

Na pista, Rayssa Leal chorou, desejou e fez a maior nota na história das Olimpíadas até então durante a fase classificatória. Na fase final, admitiu que se sentiu pressionado, errou duas manobras consideradas simples por ela, mas chamou a torcida, se concentrou e reagiu na última tentativa para saltar do quinto para o terceiro lugar.

“Fiquei pressionada, não de um jeito ruim, mas para acertar tudo para comemorar”, percebeu ela. “Foi o campeonato em que mais fiquei nervoso. Já sabia o que tinha que fazer, comecei a me cobrar bastante, mas depois entendi que era só colocar um sorriso no rosto mesmo”.

Rayssa funciona sob pressão, mas nem sempre. O que lhe ajudou a relaxar e reagir no fim para subir ao pódio foi a música que tocava em seu fone de ouvido, em especial “Amor Puro”, canção que Djavan compôs nove anos antes de um skatista nascer.

“Como estava muito ansiosa, coloquei pra tocar “Um amor puro”, do Djavan”, revelou ela, que também afirmou ter ouvido “Mudar pra Quê”, da dupla Os Nonatos, desfeita em 2019, e “É o Amor”, música que se tornou famoso nas vozes dos sertanejos Zezé Di Camargo e Luciano.

Embora seja mais alto, mais experiente e mais maduro, o brasileiro costuma dizer que não sabe ainda o seu tamanho e a inspiração que provoca em outros jovens esportistas. Mas com a exposição que veio graças ao seu sucesso no esporte ela já se habituou.

“É de boa, eu me acostumei, me adaptei muito fácil”, declarou. “Desde aquele vídeo com 7 anos (em que anda de skate vestida de fadinha) em Imperatriz já era meio bagunçado, a pedia pessoal para tirar foto. Eu cresci com isso”.

Rayssa vai seguir comemorando em Paris e no Brasil. Mas quando voltar, terá de voltar à vida de adolescente comum, embora não seja uma. “Vou estudar, em agosto voltam as aulas”.

Estadão

Postado em 29 de julho de 2024