Safra do milho de sequeiro cai até 80% e afeta agricultura familiar no RN

Postado em 13 de junho de 2025

A estiagem que marcou os primeiros meses de 2025 no Rio Grande do Norte provocou perdas severas na produção de milho de sequeiro — aquele cultivado sem irrigação. Segundo estimativas do Instituto de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater-RN) e da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Rural e da Agricultura Familiar (Sedraf), as perdas atingem entre 70% e 80% em todos os territórios do Estado, afetando especialmente os agricultores familiares. O impacto repercute no mercado: com oferta menor, a “mão do milho” (50 espigas), que no ano passado foi vendida a R$ 40, em média, deve subir neste ano, principalmente no interior, onde esse tipo de milho é mais consumido.

“De forma geral, a perda de safra no Rio Grande do Norte atingiu todos os territórios. Foi uma perda quase que total do milho de sequeiro. Como boa parte do milho é plantado aqui para a colheita nesse período de março para junho, então a perda é praticamente total. São poucas as áreas que conseguiram tirar milho esse ano no Rio Grande do Norte, todos os territórios”, diz Alexandre Lima, secretário estadual de Desenvolvimento Rural. Segundo ele, as chuvas ficaram 40% abaixo do esperado para a época.

A explicação técnica para esse quadro vem dos efeitos climáticos que afetaram o regime de chuvas no primeiro semestre. “De acordo com a Emparn, houve variações drásticas nas previsões, gerando momentos entre os fenômenos La Niña e El Niño e acabou que isso interferiu fortemente na fase chuvosa do nosso primeiro semestre. Isso afetou diretamente a cultura do milho, que precisa de mais água, de maiores índices pluviométricos de chuva para poder se desenvolver, produzir”, afirma Franki Souza, diretor-geral da Emater-RN.

Embora as perdas sejam graves, o Estado não deverá enfrentar desabastecimento completo graças à produção irrigada. “Aqui no estado você tem o milho irrigado, boa parte concentrada ali na região do Vale do Açu, Mossoró, tem uma área irrigada ali naquela região e praticamente concentra boa parte do que se irriga de milho. E a partir dali é enviado para as demais regiões do Estado”, completa o secretário.

No entanto, a escassez do milho de sequeiro que abastecia as feiras locais vai pressionar toda a cadeia regional. “Esse milho de sequeiro não chega aqui em Natal. O milho de sequeiro fica dentro das feiras municipais, das feiras de bairros. Então esse milho vai chegar naquela família, naquele público consumidor mais regionalizado”, explica o diretor da Emater. Com o São João, período em que o milho tem alta demanda, o desequilíbrio entre oferta e procura já preocupa. “Isso porque aquele milho de sequeiro não vai chegar nas regiões do interior que normalmente ele chegaria”, completa Franki Souza.

O milho produzido fora do Rio Grande do Norte, como na Paraíba ou no Agreste pernambucano, também não é visto como solução em larga escala. “Em relação a um abastecimento vindo de outros estados, é possível, mas eu acho difícil. Se você for ver áreas irrigadas significativas, a Paraíba não tem. Boa parte do nosso milho aqui vem dessas áreas irrigadas mesmo aqui do Estado”, avalia Alexandre.

Garantia-Safra

Diante do cenário, o Governo do Estado e os municípios já acionaram mecanismos de apoio à agricultura familiar. O principal deles é o programa federal Garantia-Safra. “A gente tem mais de 37 mil famílias, de mais de 100 municípios, que fizeram a solicitação no início do ano. O que acontece nesse período agora é que os municípios estão solicitando o laudo de vistoria para comprovação de perda. O Garantia-Safra é um seguro agrícola da agricultura familiar que cobre milho, feijão, por exemplo, os produtos que a agricultura produz. Se comprovado mais de 50% da perda num município, é pago um valor de R$1.200 por família”, informa o titular da Sedraf.

Além da compensação financeira, o cenário reforça a vulnerabilidade da produção agrícola tradicional às oscilações climáticas, diz Lima. Em 2024, as previsões eram pessimistas, mas o ano foi produtivo. Já 2025, que começou com expectativa de inverno regular, trouxe chuvas muito abaixo da média. “É uma coisa que realmente depende da chuva, depende de como as precipitações se comportam. Esse ano, as previsões indicavam o inverno regular, e não se confirmou. Em anos de bom inverno, a oferta aumenta e os preços se estabilizam, mas quando a seca predomina, como agora, o impacto é maior”.

Produção total de milho cresce no RN

Apesar dos desafios para a agricultura familiar diante das perdas na produção do milho de sequeiro, dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgados nesta quinta-feira (12) apontam para um possível aumento na produção total de milho no Rio Grande do Norte na safra 2024/25, impulsionado por ganhos expressivos na produtividade.

Enquanto a estimativa para a produção geral do cereal no RN foi de 23,1 mil toneladas na safra 2023/24, para a safra 2024/25 a previsão é de uma produção total de 32,8 mil toneladas, um crescimento de 42%, caso a previsão se confirme. Além disso, a produtividade por hectare também disparou em quase 58%, conforme a estimativa da Conab. A melhora substancial na produtividade (de 342 Kg/ha para 540 Kg/ha) foi a principal responsável por compensar a redução de 9,9% na área total cultivada (67,4 mil hectares em 23/24 para 60,7 mil hectares em 24/25).

Apesar da redução na área plantada, o aumento na produtividade resultou em um crescimento expressivo da produção total de milho entre as safras 2023/24 e 2024/25. Isso pode indicar a adoção de tecnologias ou práticas de manejo mais eficientes.

Brasil: produção de grãos deve crescer 13%

A produção de grãos no Brasil em 2024/25 deve alcançar um novo recorde, com estimativa de 336,1 milhões de toneladas colhidas. O volume representa um crescimento de 13% em relação à safra anterior, o que equivale a um acréscimo de 38,6 milhões de toneladas. Os dados foram divulgados nesta quinta-feira (12) pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). O bom desempenho da safra é atribuído ao aumento de 2,3% na área cultivada, que chega a 81,8 milhões de hectares, e à produtividade média das lavouras, estimada em 4.108 quilos por hectare.

Entre os destaques no País está justamente o milho, principal cultura da segunda safra, cuja produção total deve alcançar 128,3 milhões de toneladas. Só neste ciclo, são esperadas 101 milhões de toneladas, o que representa um crescimento de 12,2% em relação ao mesmo período da temporada anterior. A colheita já foi iniciada em estados como Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Tocantins, Maranhão e Paraná. A produtividade elevada é resultado de clima favorável nessas regiões.

“A expectativa é de que, apenas neste ciclo, sejam colhidas 101 milhões de toneladas, crescimento de 12,2% se comparado com a 2ª safra do grão na temporada passada”, informou a Conab. A entidade associa o resultado às “boas produtividades alcançadas” graças às “condições climáticas favoráveis” e ao “manejo adequado” dos produtores do cereal, na maioria das áreas produtoras.

No caso do feijão, cuja produção ocorre em três etapas ao longo do ano, a previsão total é de 3,17 milhões de toneladas. A primeira safra já foi encerrada com volume de 1,1 milhão de toneladas. A segunda safra se encontra majoritariamente nas fases de enchimento de grãos e maturação, mas a colheita já está em andamento em algumas regiões, como o Paraná (98% concluída) e Minas Gerais (74%), até o dia 31 de maio. A terceira safra está em fase inicial de plantio.

Tribuna do Norte