Sucessão na Câmara: faltando 5 meses, deputados veem cenário incerto
A primeira semana de setembro terminou com mudanças na disputa pelo apoio do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), a sua sucessão. Se antes o amigo, aliado antigo e líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), era o favorito, agora o líder do Republicanos, Hugo Motta (PB), deve ser o escolhido. Apesar dessa mudança, a avaliação de deputados é que, em cinco meses, muito ainda pode mudar.
A eleição para o novo presidente da Câmara é feita em fevereiro de 2025, e a disputa ficou mais intensa nas últimas semanas após Lira dizer que escolheria seu candidato até o fim de agosto, o que não aconteceu. Nos últimos dias, com uma articulação que envolveu agentes da direita à esquerda e a saída do presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), da disputa, o presidente da Câmara sinalizou que apoiará Motta, visto como nome capaz de reunir mais consenso.
O líder do Republicanos tem o respaldo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), enquanto Elmar enfrentava dificuldades para ser aceito por integrantes da gestão petista. O líder do União Brasil é opositor do PT na Bahia, estado do ministro da Casa Civil, Rui Costa. Além disso, pesa a favor de Motta o bom trânsito na Câmara, atraindo todos os segmentos, enquanto congressistas se queixam do trato de Elmar e da dificuldade de acesso a ele.
A sinalização de Lira pelo líder do Republicanos deixou Elmar irritado. Ele agora quer uma aliança com o PSD, de Gilberto Kassab. O partido de Kassab também tem um candidato: Antonio Brito (PSD-BA). Ambos não devem sair da disputa nas próximas semanas.
Deputados desses partidos acreditam em uma aliança dos dois para fazer frente ao favoritismo de Motta, mesmo que ele seja escolhido como candidato de Lira.
Congressista lembra episódio de “certeza” de Dilma em 2015
Um congressista comentou a situação da semana, sob reserva, descrevendo que era difícil prever quem chegará no fim da disputa como favorito. O parlamentar lembrou a “certeza” que a então presidente Dilma Rousseff (PT) tinha sobre o candidato lançado por ela, deputado federal Arlindo Chinaglia (PT-SP), em 2015.
Ao final da disputa, Chinaglia perdeu, com o então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ) se tornando eleito presidente da Câmara.
Na disputa deste ano, por exemplo, o maior partido da Casa, o PL de Jair Bolsonaro, ainda não tomou posição. A legenda tem 93 parlamentares e é vista como uma peça importante para todos os que concorrem.
Temor de Lira
A demora do presidente da Câmara em escolher um nome envolve o desejo de ter certeza sobre a competitividade do seu candidato e que ele tenha chances reais de ganhar.
O maior medo de Lira é não manter a influência depois de deixar o comando da Casa. Os últimos antecessores de Lira não conseguiram manter-se em evidência depois que deixaram a função.
Cunha foi cassado e, em 2022, não conseguiu ser eleito deputado. Rodrigo Maia (PSDB) saiu da política e, hoje, atua na iniciativa privada.
Metrópoles