Trump completa 100 dias com impasse sobre tarifas e queda de popularidade

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, completa 100 dias, nesta terça-feira (29), desde que assumiu seu segundo mandato na Casa Branca, em 20 de janeiro de 2025.
Desde a data, ele lançou uma guerra tarifária global sem precedentes e cortou a ajuda externa dos EUA. Falou sobre anexar a Groenlândia, retomar o Canal do Panamá e tornar o Canadá o 51º estado dos EUA.
Nos primeiros 100 dias desde que Trump retornou ao poder, ele travou uma campanha frequentemente imprevisível que abalou partes da ordem mundial baseada em regras que Washington ajudou a construir a partir das cinzas da Segunda Guerra Mundial.
“O que estamos vendo é uma enorme ruptura nos assuntos mundiais”, disse à Reuters Dennis Ross, ex-negociador do Oriente Médio para governos democratas e republicanos. “Ninguém tem certeza, neste momento, do que fazer com o que está acontecendo ou do que virá a seguir”, ele acrescentou.
A Casa Branca rejeita a ideia de que Trump tenha prejudicado a credibilidade dos EUA, citando, em vez disso, a necessidade de se recuperar do que chama de “liderança irresponsável” do ex-presidente Joe Biden no cenário mundial.
“O presidente Trump está tomando medidas rápidas para enfrentar os desafios, trazendo a Ucrânia e a Rússia à mesa de negociações para encerrar a guerra, estancando o fluxo de fentanil e protegendo os trabalhadores americanos, responsabilizando a China, e levando o Irã à mesa de negociações ao impor novamente a Pressão Máxima”, disse o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca, Brian Hughes, em um comunicado.
Ele acrescentou que Trump também estava “fazendo os houthis pagarem por seu terrorismo… e protegendo nossa fronteira sul, que estava aberta a invasões por quatro anos”.
No entanto, à medida que se aproximava dos 100 dias de sua Presidência, a visão dos americanos sobre o que ele fez até agora tornou-se profundamente negativa, revela uma nova pesquisa da CNN conduzida pela SSRS.
Relembre principais feitos em 100 dias
Acusando parceiros comerciais de “roubar” os EUA há décadas, Trump colocou em prática uma política tarifária abrangente que abalou os mercados financeiros, enfraqueceu o dólar e desencadeou alertas de desaceleração da produção econômica mundial e aumento do risco de recessão.
Trump chamou as tarifas de “remédios” necessários, mas seus objetivos permanecem obscuros, mesmo com o governo trabalhando para negociar acordos separados com dezenas de países.
Ao mesmo tempo, ele praticamente reverteu a política americana em relação à guerra de três anos da Rússia na Ucrânia e se envolveu em uma discussão no Salão Oval com o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskiy no final de fevereiro.
Ele se aproximou de Moscou e despertou temores de que forçará Kiev, apoiada pela Otan, a aceitar a perda de território, enquanto prioriza a melhoria das relações com o presidente russo Vladimir Putin.
Trump insistiu que os EUA “ficarão com” a Groenlândia, uma ilha dinamarquesa semiautônoma. Ele também afirmou que o Canadá tem pouca razão de existir e deveria se tornar parte dos EUA.
Ele ameaçou tomar o Canal do Panamá, que foi entregue ao Panamá em 1999. E propôs que Washington assumisse o controle de Gaza, devastada pela guerra, e transformasse o enclave palestino em um resort no “estilo Riviera”.
Alguns analistas dizem que Trump pode estar buscando ressuscitar uma estrutura global no estilo da Guerra Fria, na qual grandes potências dividem esferas geográficas de influência.
Mesmo assim, ele não ofereceu detalhes sobre como os EUA poderiam adquirir mais território, e alguns especialistas sugerem que ele pode estar assumindo posições extremas e até mesmo exageradas como manobras de barganha.
Com sua amizade histórica com os EUA agora desgastada, o Canadá busca fortalecer os laços econômicos e de segurança com a Europa.
Outra questão fundamental é se alguns governos irão, discretamente, proteger suas apostas, estreitando laços comerciais com a China, o principal alvo tarifário de Trump.
O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, encontrou-se com o presidente Xi Jinping em Pequim no início de abril, e a China afirmou recentemente que trocou opiniões com a União Europeia sobre o fortalecimento da cooperação econômica.
Pequim se apresentou como uma solução para as nações que se sentem intimidadas pela abordagem comercial de Trump, apesar de seu próprio histórico de práticas às vezes predatórias ao nível internacional.
Aaron David Miller, ex-diplomata veterano dos EUA em governos republicanos e democratas, disse à Reuters que não é tarde demais para Trump mudar de rumo na política externa, especialmente se começar a sentir pressão de colegas republicanos, preocupados com os riscos econômicos, enquanto buscam manter o controle do Congresso nas eleições de meio de mandato do próximo ano.
Se Trump se mantiver firme, o próximo presidente poderá tentar restabelecer o papel de Washington como garantidor da ordem mundial, mas os obstáculos podem ser enormes.
“O que está acontecendo ainda não está além do ponto sem retorno”, disse à Reuters Miller, agora integrante sênior do Carnegie Endowment for International Peace, em Washington.
“Mas o quanto de dano está sendo causado agora às nossas relações com amigos e o quanto os adversários se beneficiarão é provavelmente incalculável”, acrescentou.
Com informações da Reuters.