União Europeia planeja banir maior produtor de diamantes da Rússia
A União Europeia está prestes a impor uma proibição às importações de diamantes da Rússia – cortando o maior produtor de diamantes do mundo de um de seus principais mercados.
“Os diamantes russos não duram para sempre”, disse o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, à margem da cúpula do G7 em Hiroshima, Japão, na sexta-feira.
Um plano para sancionar a indústria russa, no valor de US$ 4 bilhões em exportações, pode ser revelado ainda neste fim de semana, disse um alto funcionário da UE a jornalistas durante um briefing na quinta-feira (18).
A Rússia produz cerca de um terço dos diamantes do mundo e é o maior exportador individual, de acordo com o Antwerp World Diamond Center (AWDC), que representa o maior centro comercial de diamantes do mundo na Bélgica.
A proibição da UE viria como parte de um 11º pacote de sanções sobre a invasão em grande escala da Ucrânia pela Rússia em fevereiro de 2022, e mais de um ano depois que os Estados Unidos proibiram suas empresas de comprar diamantes russos para fins não industriais.
Na sexta-feira (19), o Reino Unido também anunciou que proibiria as importações de diamantes de Moscou ainda este ano, bem como todas as importações de cobre, alumínio e níquel de origem russa.
A proibição da UE afetará as finanças da Rússia, bem como varejistas e comerciantes europeus de diamantes. Os compradores de joias e relógios de luxo também podem sentir o impacto em suas carteiras.
Tamanho do impacto
As exportações de diamantes da Rússia geraram cerca de US$ 4 bilhões em 2021, segundo o governo do Reino Unido. O valor total das exportações russas de mercadorias naquele ano foi de US$ 494 bilhões, de acordo com o banco central do país. Petróleo e gás representaram cerca de metade desse valor.
A indústria de diamantes do país já sofreu um grande golpe em abril de 2022, quando os Estados Unidos proibiram as importações da Alrosa, uma mineradora estatal russa responsável por 90% da capacidade de mineração de diamantes da Rússia.
Os Estados Unidos respondem por metade da demanda global de diamantes usados em joias, disse Paul Zimnisky, analista independente da indústria de diamantes, enquanto a Europa e o Reino Unido juntos representam apenas cerca de 5% do mercado.
A proibição dos diamantes russos pode inflar os preços para os consumidores europeus, especialmente se a produção de diamantes em outros lugares não aumentar.
“Custa bilhões para produzir mais diamantes e leva até dois anos antes que a produção realmente possa ser vista no mercado”, disse Tom Neys, porta-voz do AWDC, à CNN.
Ele observou que a demanda por joias com diamantes estava atualmente “lenta”, mas “quanto mais perto chegarmos do final do ano [quando a demanda tende a aumentar]… você sentirá esse aperto e isso provavelmente se traduzirá em preços mais altos”.
É improvável que o uso de diamantes na indústria sofra graves interrupções, de acordo com Zimnisky, porque mais de 90% dessas gemas são produzidas sinteticamente na China. A dureza dos diamantes os torna úteis na fabricação de brocas e equipamentos cirúrgicos, por exemplo.
É possível que os diamantes produzidos sinteticamente também possam ajudar a preencher a lacuna no mercado de joias deixada pelas exportações de Moscou, disse Zimnisky, embora seja improvável que um excesso de diamantes mais baratos, produzidos em laboratório, concorra com suas alternativas naturais. Esses sempre serão um “produto de luxo”, disse Zimnisky.
Um golpe para a Bélgica
Os comerciantes de diamantes da Europa estão consternados com a perspectiva de sanções.
“Somos contra as sanções”, disse Neys, do AWDC, acrescentando que os comerciantes simplesmente mudariam seus negócios de Antuérpia em resposta.
A cidade belga já “perdeu muitos negócios para Dubai” nos últimos 15 anos, disse ele, já que a Antuérpia endureceu suas regras de transparência e aquisição ética de diamantes.
Cerca de US$ 40 bilhões em diamantes são movimentados pela Antuérpia todos os anos, de acordo com o AWDC. Entre 5% e 10% desses diamantes são de origem russa, ante cerca de um quarto antes da guerra.
As empresas provavelmente se mudarão para o centro comercial mais ativo, disse Neys. E “quando os grandes se movem, os pequenos vão atrás, e aí você fica sem nada”, acrescentou.
Alguns dos maiores fabricantes de joias do mundo, incluindo a Pandora – a maior do mundo – já rejeitaram os diamantes de Moscou voluntariamente após a invasão.
Outros joalheiros de renome também reformularam suas cadeias de suprimentos, disse Zimnisky, portanto, a proibição de diamantes russos será sentida de forma mais intensa pelos pequenos joalheiros independentes da Europa.
“Em última análise, [haverá] uma bifurcação no mercado de diamantes. Os diamantes não russos serão encaminhados para o mundo ocidental”, disse ele, enquanto os diamantes russos provavelmente acabarão na China, Índia e Oriente Médio.
Fechando brechas?
A maior tarefa que a Europa enfrenta é como projetar uma proibição hermética que impeça que os diamantes russos cheguem ao bloco por rotas tortuosas.
Falando a jornalistas na quinta-feira, um alto funcionário da UE disse que o “foco principal” do novo pacote de sanções do bloco era a “evasão”.
Zimnisky explicou: “Se você é, digamos, um participante da indústria dos EUA… comprando diamantes de um cortador e polidor indiano, tecnicamente você ainda pode comprar pedras de origem russa”.
Cerca de 90% dos diamantes brutos do mundo são enviados para a Índia para corte e polimento antes de serem reexportados para fabricantes de joias.
É aí que a atual proibição dos EUA falha, de acordo com Neys. “Há muitos diamantes russos que ainda são vendidos na economia americana”, disse ele.
“Se você realmente deseja fechar brechas, precisa encontrar um sistema que impeça que os diamantes [russos] cheguem ao mercado G7”, disse Neys. Para fazer isso funcionar, ele acrescentou, joalheiros e comerciantes precisariam de acesso à tecnologia que pudesse determinar a origem dos diamantes.
CNN