Vereadora de Arcoverde pode ter mandato cassado após dizer que filho deficiente é ‘castigo de Deus’ para mãe
A Câmara de Vereadores de Arcoverde, no Sertão de Pernambuco, formou, nesta sexta-feira (3), uma Comissão Prévia para analisar pedidos de cassação da parlamentar Zirleide Torres (PTB).
No dia 30 de outubro, a vereadora afirmou, em sessão plenária, que uma mãe teve um filho com deficiência por “castigo de Deus”. A declaração repercutiu nacionalmente.
“Não preciso citar o nome da cidadã, que o castigo de Deus ele dá aqui em vida. Quando ela veio com um filho deficiente, é porque ela tinha alguma conta a pagar com aquele lá de cima. Ela já veio para sofrer”, disse Zirleide na ocasião, referindo-se a uma assistente social com quem tem desavença política.
Em vídeo publicado nas redes sociais, a assistente social Luzia Damasceli disse que a fala atingiu todas as mães e pais de filhos deficientes.
“Ela deveria estar lutando e apresentando projetos em benefício da comunidade, mas resolveu perder seu tempo para tentar humilhar a mãe de um deficiente. Eu tenho parazer de ser mãe de um filho maravilhoso, especial. Você não citou meu nome, mas as características dão a entender que foi para mim. Meu filho me ensinou a ser mãe, uma carrega a responsabilidade de um pai também. Meu filho é motivo de orgulho. Agradeço a Deus por essa benção na minha vida. Você é quem tem que ter cuidado com os castigos de Deus”, afirmou.
“Nada justifica a sua fala. Você atingiu todas as mães e pais que têm filhos especiais. Ainda bem que meu filho foi educado por uma grande mãe. E eu o preparei meu filho para se defender de pessoas como você, preconceituosas”, acrescentou.
Em nota à imprensa, Zirleide afirmou que a fala foi “movida por agressões, mentiras e ofensas” e pediu desculpas. Leia a íntegra:
“Antes de tudo, quero pedir de perdão, desculpas, particularmente as pessoas com deficiências e seus pais, pela infelicidade dita durante a última sessão da casa legislativa. Nunca, em nenhum momento de nossa vida, fui capaz de ser ofensiva com as pessoas que ultrapassassem o âmbito de sua atuação administrativa, pois sempre nos pautamos pelo respeito e a luta em defesa das pessoas com deficiências, assim como fizemos em defesa dos portadores com o transtorno do espectro autista (TEA), sendo pioneiras ao lado de pais e mães.
Lamentavelmente, movida por agressões, mentiras e ofensas desferidas a minha pessoa, motivadas por diferenças políticas e uma política de baixo nível, incorremos no erro de sermos ofensiva as pessoas com deficiência, quando deveríamos ter procurado os meios legais de nos defender. Não quero justificar essas agressões fortuitas de terceiros pelas palavras indevidas por mim proferidas, apenas situar que sim, faltou-me tranquilidade e serenidade para agir e falar. Mas, repito, o respeito, a preocupação e a nossa luta em defesa das pessoas com deficiências são inerentes a minha pessoa e ao mandato que exerço. Sabemos que para se construir uma sociedade inclusiva, é necessário o cuidado com as palavras para se referir ao outro. Errei e tenho a humildade de reconhecer e pedir desculpas e perdão a Deus e a todos.
Sabemos que os impedimentos clínicos que estão nas pessoas e as barreiras ao seu redor são fatores que resultam nas deficiências que atingem tantos brasileiros e, em minha própria família, temos pessoas com essas limitações, a quem temos todo o carinho e amor do mundo, certas da bençãos que representam em nossas vidas. O mesmo carinho que tenho pelas pessoas com deficiências em nosso município, estado ou país, como comprovam nossas ações e atos no parlamento municipal, que está e continuará aberto a essas lutas.
Volto a pedir perdão, a cada um e a defender a luta em favor das pessoas com deficiência, evitando-se barreiras ou limitações que prejudiquem ou dificultem sua inclusão na sociedade. Temos a clareza de reconhecer os erros, redirecionar nossos pensamentos e caminhar lado a lado com a verdade, o respeito e o trabalho.
Zirleide Monteiro – Vereadora de Arcoverde”
Diario de Pernambuco