Vigorexia: conheça transtorno que causa obsessão por corpo musculoso e perfeito

Ir para a academia e ter uma rotina de treinos é sempre associado a uma vida saudável, mas o excesso de exercícios físicos e a busca pelo corpo ideal pode se tornar perigoso e até mortal. É o caso da vigorexia, transtorno causado pela dismorfia, onde a pessoa procura a perfeição corporal, ou foca em alguma imperfeição física.
Também conhecida como ‘Síndrome de Adônis’, em referência ao personagem mitológico famoso pela beleza, a vigorexia é um transtorno semelhante à anorexia, mas com a diferença de não ser relacionada apenas à alimentação e sim, aos exercícios físicos em excesso e até uso de substâncias para atingir o corpo desejado.

Para Pedro Daniel Katz, chefe da equipe de psiquiatria da Beneficência Portuguesa de São Paulo, o transtorno faz a pessoa valorizar imperfeições corporais, minando a autoestima e até afetando a vida pessoal. “A dismorfia, que também está na vigorexia, faz a pessoa se preocupar não com o corpo todo, mas em particularidades, seja o peso, tamanho do quadril, pernas, por exemplo”, explica.

A vigorexia, segundo o psiquiatra, é mais comum em homens, justamente pela procura do corpo bem modelado e pela expectativa de que ter o corpo perfeito corrija outras insatisfações pessoais. “Há a insatisfação constante do corpo que não está adequadamente modelado, perfeito, na estrutura corporal. Por isso é diferente da anorexia, em que o movimento é para não ganhar peso. Na vigorexia, se ganha o peso, mas modelando o corpo”, indica.

Quais os sintomas da vigorexia?
Com a preocupação frequente na modelação do corpo, no excesso dos exercícios físicos e alterações corporais com qualquer mudança na rotina, o transtorno tem sintomas principalmente psicológicos.

“Os principais sinais comportamentais envolvem muito cansaço, irritabilidade, uso exagerado de suplementos alimentares, práticas de exercícios físicos até a exaustão para ter melhor corpo, preocupação excessiva com a alimentação para a modelação corporal, insônia, dor muscular, alteração do humor, até episódios depressivos”, aponta o psiquiatra Pedro Daniel Katz.

Com isso, há um impacto não só na autoestima, já que com as mudanças extremas na rotina, há também a alteração no convívio social. “Afeta a vida pessoal, escolar, no trabalho, no convívio social como um todo”, avalia o psiquiatra.

Segundo ele, há também o desequilíbrio químico do corpo, devido ao excesso de exercícios e até uso de substâncias para melhorar o desempenho na academia. “Muitas vezes na vigorexia as pessoas usam produtos, hormônios e isso faz com que as pessoas não tenham um equilíbrio químico devido aos níveis de dopamina e adrenalina no sangue, e pode até ocasionar uma crise de pânico pelo exagero da adrenalina e baixa de serotonina no corpo”, cita.

Redes sociais aumentam casos de vigorexia

Cada vez mais populares, os perfis que cultuam o corpo perfeito e uma rotina intensa de exercícios, são apontados como responsáveis pelo aumento de casos de vigorexia. Segundo o psiquiatra, muitos perfis que não são profissionais têm posições extremas que podem influenciar pessoas vulneráveis psicologicamente às questões corporais.

“Há perfis de pessoas que se dizem profissionais, mas cultuam o corpo sem focar na saúde e sim na modelagem corporal. As mídias influenciam pessoas vulneráveis, principalmente jovens insatisfeitos com a própria vida e encontram nos perfis uma solução mágica, para que pareça um mundo perfeito, corpo musculoso, que não quer dizer um corpo saudável”, pontua o psiquiatra.

Pedro Daniel Katz também cita que pacientes dele já apresentaram perfis do tipo em consultam. “Ouço pacientes dizendo que ‘estão dizendo’, pergunto o currículo, a postura, a história da pessoa, para a gente ter uma referência clara, com conceito profissional ou é um conceito de interesse próprio, de atrair seguidores?”, questiona.

Tratamento da vigorexia é multidisciplinar
O transtorno, apesar de complexo, é tratável. Além do tratamento psicológico e psiquiátrico, a vigorexia também exige acompanhamento físico. “É preciso de medicamentos que tratem a compulsão e integradamente, além de nutricionista, educador físico, tudo integrado para não tratar de forma extrema e sim multidisciplinar, tratando o todo”, indica o psiquiatra.

BAND

Postado em 27 de fevereiro de 2024