“Faz o pix aí”: homem de Zema em Brasília trata de propina em mensagem

Uma conversa entre um empresário de Brasília e o advogado Bruno Ornelas, atual representante do governo de Minas Gerais na capital federal, revela um esquema de venda de cargos no Departamento Estadual de Trânsito de Goiás. Nos diálogos por WhatsApp, de maio de 2022, ao qual a coluna teve acesso, Ornelas pede dinheiro para nomear um indicado do empresário para a gerência do Departamento de Tecnologia da Informação do órgão de trânsito. O preço do possível tráfico de influência: R$ 900 mil.

À época, o advogado era responsável pela coordenação política nacional do Podemos, partido ao qual, em março de 2022, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, entregou a administração do Detran em troca de apoio à reeleição. Na ocasião, Eduardo Machado, ex-presidente do PHS, partido incorporado pelo Podemos em 2019, assumiu a presidência da instituição.

Nos diálogos, Ornelas disse agir a pedido de Felipe Cortês, então colega de partido e candidato derrotado a deputado estadual em Goiás em 2022, ao pedir pagamentos ao empresário: “O Dentran lá é nosso, mas o jogo é dele Cortês”, afirmou. Diversas mensagens mostram a pressão exercida pelo advogado: “Faz o pix aí”; “Lindão, faz logo de 100”; ; “Manda mais 100k”; “Lindão, só trabalho com comprovante”; “Ou tem capim ou não tem”; “Irmão, 17 horas é o prazo final pra TED”; “Manda os 100 que garanto irmão”, entre outras (veja os prints).

Em uma das mensagens, Ornelas pede o adiantamento de R$ 100 mil para Cortês, e menciona o governador Ronaldo Caiado: “Faz o pix do Felipe aí, carai. 100k”; “[Cortês] Disse que vai rodar sim. Esteve com o governador [Ronaldo Caiado]. Mas é a gerência de Tecnologia. Não será a diretoria”. Em um vídeo enviado por Ornelas ao empresário, Cortês também citou o governador de Goiás ao prometer nomear o indicado do empresário para o cargo no Detran: “O governador já fez o compromisso. Até sexta-feira, graças a Deus, vamos publicar a po… da TI”, disse Cortês. A assessoria de imprensa do governador Ronaldo Caiado não retornou às perguntas enviadas pela reportagem. Procurado, Caiado também não respondeu.

Comprovantes aos quais a reportagem teve acesso mostram o depósito de R$ 150 mil à dupla do Podemos – sendo R$ 100 mil destinados à conta da mulher de Cortês, Fabiola Prado, que chegou a ser nomeada este ano para um cargo de assessora especial no governo de Caiado, mas a nomeação foi anulada e ela não tomou posse. Outros R$ 50 mil foram destinados pelo empresário a uma conta indicada por Ornelas, em nome da empresa Hiperpay Serviço de Pagamentos Ltda.. Apesar dos pagamentos, a nomeação não foi consumada.

Mais tarde, diante de mais pedidos de dinheiro, o empresário reclamou: “Só pede, só pede, aff”. “Tem um mês que mandamos lá pra ele [Cortês] os 150 mil. Ele fez nada”, escreveu. “Tem que dar saída lá papai. São 900 mil. Bb. Né 90 mil não”; e “Manda ele mostrar q tá andando”. Ornelas respondeu: “Deixa rolar primeiro. Aí vamos lá sentar na cadeira do presidente [Eduardo Machado]”.

Em outra mensagem, Ornelas enviou ao empresário uma foto da presidente Nacional do Podemos, a deputada federal Renata Abreu, durante um encontro de correligionários, e, em seguida, a mensagem: “Seus amigos”. O advogado trabalhou como assessor no gabinete da deputada por quase dois anos, entre 2017 e 2019. Procurada, a presidente do Podemos, Renata Abreu, não respondeu até o fechamento desta reportagem.

Bruno Ornelas afirmou, por meio de sua assessoria de imprensa, que “desconhece qualquer negociação de cargo ou qualquer outra ação que tenha usado seu nome de forma indevida e criminosa” e que “não mantém nenhum vínculo com o governo do Estado de Goiás, sendo desta forma impossível qualquer ingerência sua sobre qualquer assunto ou processo de contratação”. “A verdade é que não há e nem nunca houve qualquer negociação referente ao assunto tratado”, informa outro trecho da nota. Confrontado com as mensagens, Ornelas não respondeu.

Felipe Cortês chegou a retornar o contato feito por telefone, mas depois ignorou as chamadas. Ele também não respondeu às perguntas enviadas pela reportagem. O espaço continua aberto para que todos se manifestem.

Procurada, a assessoria do governador Romeu Zema enviou nota: “A assessoria de comunicação da Casa Civil informa que todos os contratados pela pasta passam por processo seletivo. Assim ocorreu com o referido servidor [Bruno Ornelas] e somente ele pode responder por qualquer fato anterior à sua nomeação”.

Metropoles

Postado em 11 de março de 2024