MPF pede mudança em nomes de espaços do RN que homenageiam figuras ou datas da ditadura

O Ministério Público Federal (MPF) recomendou ao Governo do Estado, à Assembleia Legislativa e às prefeituras e câmaras de 10 municípios do Rio Grande do Norte a retirada de homenagens feitas à ditadura militar e a colaboradores diretos do regime, que durou de 1964 a 1985.
Segundo o MPF, pelo menos 80 ruas, praças e outros espaços públicos dessas cidades levam o nome de ex-ditadores ou fazem referência à data do golpe de 1964: 31 de março.
Em Natal, são sete praças, uma escola, três pontes e seis ruas que levam nomes de ditadores ou fazem alusão à data do golpe. Entre os equipamentos, está a Ponte de Igapó, que leva oficialmente o nome de Ponte Costa e Silva – em alusão ao marechal Artur da Costa e Silva, que governou o Brasil de 1967 a 1969.
A iniciativa da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão (PRDC) abrange, por enquanto, apenas parte das homenagens indevidas já identificadas em território potiguar. Segundo levantamento do MPF, há pelo menos 542 prédios, salas, auditórios, centros culturais, escolas, vias, bairros, monumentos e bens públicos que se enquadram nessa situação.
As 11 recomendações dizem respeito somente a municípios cuja atuação cabe à PRDC de Natal. São eles: a própria capital, Natal, e os municípios de Extremoz, Goianinha, Macaíba, Monte Alegre, Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante, São José de Mipibu e Vera Cruz.
Confira a lista completa de locais aqui.
Prazos
As recomendações estipulam 90 dias para que seja apresentado um estudo com levantamento de todos os locais públicos, em suas áreas de atuação, cujos nomes contenham referências, elogios ou homenagens a colaboradores da ditadura militar.
O prazo para que esses locais tenham seus nomes modificados é de 120 dias e, em 180 dias, os entes públicos deverão apresentar ainda relatórios contendo o nome de todas as pessoas mortas, desaparecidas ou torturadas durante o período militar em seus municípios.
Com essas informações, os casos envolvendo outras regiões do estado serão encaminhados aos procuradores da República responsáveis, para que estes avaliem a adoção das medidas cabíveis.
Caso as recomendações não sejam atendidas, o MPF poderá ingressar com ações judiciais contra os gestores.
Autoritarismo
Manter elogios ou homenagens a colaboradores da ditadura militar, aponta o procurador regional dos Direitos do Cidadão, Emanuel Ferreira, favorece a “naturalização e a aceitação de um período autoritário, promovendo continuidades que normalizam tentativas de golpe ainda hoje no Brasil”.
Ele ressalta que é necessário preservar a memória sobre esse período, mas principalmente disseminando o conhecimento sobre as condutas criminosas de seus agentes, para evitar que se repitam.
O Supremo Tribunal Federal (STF) já proibiu uso de recursos públicos em comemorações relativas ao golpe de 1964, e a PRDC entende que a manutenção das homenagens em espaços públicos pode configurar ato de improbidade administrativa.
98FM