A provável indicação de Flávio Dino para o Supremo Tribunal Federal (STF), antecipada pela Folha, abre a disputa pela sucessão para o Ministério da Justiça.
Um dos nomes que emerge entre integrantes do governo é o da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet.
Advogada, ela se formou em direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.
É especialista em ciência do direito pela Escola Superior da Magistratura e mestre em direito do Estado pela PUC de São Paulo.
A nomeação de Tebet para o cargo ajudaria Lula (PT) a aplacar a contrariedade que deve surgir por não indicar uma mulher para o STF.
Com a saída de Rosa Weber e a entrada de Dino em seu lugar, a Corte terá apenas uma mulher entre seus integrantes, a ministra Cármen Lúcia.
Por outro lado, ganharia uma plataforma poderosa para uma eventual candidatura à Presidência da República, o que pode descontentar o PT.
Há outros nomes sendo cotados para o lugar de Dino.
O ministro Ricardo Lewandowski voltou a figurar na bolsa de aposta. Ele viaja nesta semana com Lula para Dubai, Emirados Árabes, onde participam da COP, e depois para Berlim.
Ex-ministro do STF, ele é muito próximo do presidente e já foi cotado para o cargo no começo do governo.
O senador Jaques Wagner seria outro nome. Ele é amigo pessoal de Lula.
O advogado Marco Aurélio de Carvalho, do grupo Prerrogativas, tem apoio expressivo no PT.
É filiado há 30 anos ao partido, e sua atuação na Operação Lava Jato foi considerada fundamental para que Lula pudesse, enfim, ser solto.
Outra possibilidade é a nomeação do atual advogado-geral da União, Jorge Messias, para a Justiça.
Ele figurava entre os preferidos de Lula para substituir Rosa Weber no STF. Neste movimento, protagonizado também pelo PT, teria crescido demais para permanecer no mesmo cargo.
Sua indicação para o Ministério da Justiça seria uma compensação política para o grupo que o apoiava. Na própria pasta há candidatos ao cargo.
O secretário-geral da pasta, Ricardo Cappelli, seria uma substituição natural, e teria o apoio do próprio Dino para sucedê-lo.
Ao acordar após uma noite de sono mal dormida, a última coisa em que você pensa é levantar da cama e ir praticar alguma atividade física. No entanto, um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Portsmouth, no Reino Unido, apontou que a capacidade de realizar tarefas mentais melhora durante uma sessão de exercícios de intensidade moderada, independentemente do estado de sono da pessoa.
O sono é fundamental para manter um estilo de vida saudável, sendo recomendado aos adultos entre sete e nove horas de descanso por noite. No entanto, análises recentes indicam que 40% da população mundial não dorme o suficiente.
As consequências da privação crônica do sono incluem doenças cardiovasculares, obesidade, distúrbios neurodegenerativos e depressão. No curto prazo, a falta de sono pode reduzir o desempenho cognitivo, o que prejudica a capacidade de atenção, o julgamento e o estado emocional.
O estudo, que teve a contribuição das Universidade de Chichester, Universidade de Surrey, Universidade Teesside, Universidade de Eletrocomunicações de Tóquio, Japão, e Universidade Estadual de São Paulo, descobriu que o desempenho cognitivo melhora durante uma sessão de exercícios de intensidade moderada, independentemente do estado de sono ou dos níveis de oxigênio da pessoa.
“Sabemos por pesquisas existentes que o exercício melhora ou mantém nosso desempenho cognitivo, mesmo quando os níveis de oxigênio são reduzidos. Mas este é o primeiro estudo sugerir que também melhora o desempenho cognitivo após privação total e parcial do sono e quando combinada com hipóxia (quando não chega oxigênio suficiente às células e tecidos do corpo)”, disse Joe Costello, da Escola de Ciências do Esporte, Saúde e Exercício (SHES) da Universidade de Portsmouth, em comunicado. “As descobertas acrescentam significativamente ao que sabemos sobre a relação entre o exercício e estes fatores de estresse, e ajudam a reforçar a mensagem de que o movimento é um remédio para o corpo e o cérebro”.
O estudo, publicado na revista Physiology and Behavior, envolveu dois experimentos, cada um com 12 participantes (24 no total). O primeiro analisou o impacto da privação parcial do sono no desempenho cognitivo de uma pessoa, e o segundo examinou o impacto da privação total do sono e da hipóxia. Em ambos, todos os participantes experimentaram uma melhora no desempenho cognitivo após cerca de 20 minutos de ciclismo.
“Como estávamos encarando o exercício como uma intervenção positiva, decidimos usar um programa de intensidade moderada, conforme recomendado na literatura existente”, acrescentou Costello. “Se o exercício fosse mais longo ou mais difícil, poderia ter amplificado os resultados negativos e se tornado um fator de estresse”.
No primeiro experimento, os indivíduos só podiam dormir cinco horas por noite, durante três dias. Todas as manhãs, eles recebiam sete tarefas para realizar em repouso e depois enquanto andavam de bicicleta. Eles também foram solicitados a avaliar sua sonolência e humor antes de concluir as tarefas.
Os resultados mostraram que os efeitos de três noites de sono parcial nas funções executivas foram inconsistentes. O artigo diz que uma explicação para isso poderia ser que algumas pessoas são mais resistentes a um déficit de sono leve ou moderado. No entanto, independentemente do estado de sono, o exercício de intensidade moderada melhorou o desempenho em todas as tarefas.
No segundo experimento, os participantes passaram uma noite inteira sem dormir e foram então colocados em um ambiente hipóxico (baixos níveis de oxigênio) nos Laboratórios de Ambientes Extremos da Universidade. Apesar da redução dos níveis de oxigênio, o exercício continuou a melhorar o desempenho cognitivo.
Thomas Williams, do Grupo de Pesquisa de Ambientes Extremos da Universidade de Portsmouth e coautor do estudo, explicou por que a equipe decidiu examinar uma combinação de estressores para o estudo:
“A privação do sono é frequentemente experimentada em combinação com outros estressores. Por exemplo, pessoas que viajam para grandes altitudes também são suscetíveis de sofrer uma perturbação nos seus padrões de sono”, detalhou ele, que completou: “Uma hipótese potencial para explicar por que o exercício melhora o desempenho cognitivo está relacionada ao aumento do fluxo sanguíneo cerebral e da oxigenação, no entanto, nossas descobertas sugerem que mesmo quando o exercício é realizado em um ambiente com baixos níveis de oxigênio, os participantes ainda foram capazes de realizar tarefas cognitivas melhor do que quando em repouso nas mesmas condições”.
O artigo diz que as explicações sobre por que o desempenho cognitivo melhora durante o exercício — mesmo quando uma pessoa está privada de sono e com pouco oxigênio — podem ser alterações na quantidade de hormônios reguladores do cérebro, bem como uma série de fatores psicofisiológicos, incluindo fluxo sanguíneo cerebral, excitação e motivação.
O trabalho sugere que o desempenho cognitivo não depende apenas da área do córtex pré-frontal do cérebro, apesar de desempenhar um papel fundamental no desempenho das tarefas.
“O córtex pré-frontal é altamente sensível ao seu ambiente neuroquímico e altamente suscetível ao estresse”, explicou Juan Ignacio Badariotti, do Departamento de Psicologia da Universidade de Portsmouth, também coautor do estudo, em comunicado. “Regula nossos pensamentos, ações e emoções e é considerado a principal parte do cérebro associada às funções executivas”.
O artigo recomenda uma investigação mais aprofundada para revelar quais mecanismos neurobiológicos estão por trás do processo de função cognitiva. Esta descoberta apoiaria qualquer pessoa que tenha sono interrompido ou pouco oxigênio, incluindo alpinistas e esquiadores, mas também pais de crianças pequenas e trabalhadores noturnos.
Os autores também reconhecem que apenas jovens saudáveis foram incluídos neste estudo e vários indivíduos foram retirados devido a eventos adversos. Eles esperam realizar investigações mais aprofundadas sobre a relação entre desempenho cognitivo e estressores, com uma mistura mais ampla de participantes.
O papa Francisco, que está tratando uma inflamação pulmonar, está “bem e estável”, segundo Matteo Bruni, porta-voz da Santa Sé, sala de imprensa do Vaticano, em comunicado divulgado nesta segunda-feira (27).
“Confirmo que a tomografia computadorizada descartou pneumonia, mas mostrou uma inflamação pulmonar que estava causando algumas dificuldades respiratórias. Para uma maior eficácia do tratamento, procedeu-se a posicionar um cateter venoso para terapia antibiótica intravenosa”, disse o porta-voz.
Segundo o Vaticano, as condições de saúde do líder da Igreja Católica são “boas e estáveis”, não apresentou febre e a situação respiratória está em evidente melhora.
“Para facilitar a recuperação do papa, alguns importantes compromissos previstos para esses dias foram adiados. Outros, de caráter institucional ou mais fáceis de cumprir devido às condições de saúde, foram mantidos”, acrescentou Matteo Bruni.
Na manhã desta segunda-feira (27), papa Francisco recebeu o presidente do Paraguai, Santiago Peña, na residência oficial. O encontro entre os líderes durou cerca de 25 minutos.
Francisco disse que irá aos Emirados Árabes Unidos para a Convenção das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP 28) e que fará o seu discurso no sábado (2), conforme previsto.
“Além da guerra, o nosso mundo está ameaçado por outro grande perigo, o das alterações climáticas, que põe em risco a vida na Terra, especialmente para as gerações futuras”, disse o pontífice.
Pyongyang envia soldados para reativar postos de vigilância após deixar o pacto firmado em 2018. Provocações deverão aumentar, avaliam especialistas, apesar de acordo ter sido violado constantemente pelo regime de Kim.A Coreia do Norte enviou soldados para a sua fronteira sul para recolocar em funcionamento postos de vigilância que haviam sido desativados no âmbito de um acordo com a Coreia do Sul em 2018, disseram militares sul-coreanos nesta segunda-feira (27/11).
Provocações como essa deverão se repetir nas próximas semanas depois da decisão da Coreia do Norte de abandonar por completo o acordo entre as duas Coreias, destinado a aliviar as tensões fronteiriças.
Na quinta-feira passada, em resposta ao lançamento do primeiro satélite espião por Pyongyang, a Coreia do Sul suspendeu parcialmente o acordo. Já o Norte o abandonou por completo, avisando que “nunca mais voltaria a estar vinculado” a esse acordo.
Analistas afirmaram que a decisão de Pyongyang foi encorajada pela sua nova relação com a Rússia, que, segundo os serviços secretos sul-coreanos, forneceu a ajuda técnica para o lançamento, na terça-feira passada, do foguete norte-coreano que colocou em órbita o satélite espião Malligyong-1, depois de duas tentativas frustradas, em maio e agosto.
A agência de notícias estatal KCNA logo divulgou que o líder norte-coreano, Kim Jong-un, já recebeu as primeiras imagens do satélite, de bases militares americanas na ilha de Guam, no Pacífico. Segundo a KCNA, o satélite espião também teria capturado imagens de potenciais alvos na vizinha Coreia do Sul, especialmente em áreas onde estão localizadas bases militares dos EUA.
O novo satélite deverá ser usado para monitorar posições militares do lado sul-coreano da Zona Desmilitarizada da Coreia (DMZ), uma faixa que divide a península.
A Coreia do Sul havia indicado antes do lançamento que, se a Coreia do Norte ignorasse os apelos internacionais para não lançar o satélite, não teria outra opção a não ser se retirar do acordo de 2018, assinado por Kim e pelo então presidente sul-coreano, Moon Jae-in.
“O alerta da Coreia do Sul de que poderia suspender o acordo jamais iria dissuadir a Coreia do Norte de lançar um satélite militar”, afirmou o especialista em relações internacionais Leif-Eric Easley, da Universidade Ewha Womans, em Seul.
Pyongyang violou acordo várias vezes
Para ele, a nova situação permite ao governo do presidente Yoon Suk-yeol se afastar de medidas de aproximação adotadas pelo governo anterior da Coreia do Sul e que, na análise do especialista, beneficiaram desproporcionalmente o regime de Kim. “Pyongyang violou o acordo inúmeras vezes”, completou.
Easley avalia que as operações de vigilância com drones que Seul poderia implementar em breve ao longo da DMZ produziriam informações mais úteis do que o rudimentar programa de satélites da Coreia do Norte. Porém, “Pyongyang provavelmente usará voos de drones sul-coreanos como desculpa para novas provocações militares”, ressalvou.
Na quarta-feira passada, poucas horas após o lançamento do satélite espião, o presidente Yoon aprovou a suspensão de uma cláusula do acordo que impunha uma zona de exclusão aérea ao longo da linha de demarcação terrestre e marítima.
A cláusula era impopular há muito tempo entre os militares sul-coreanos porque, na prática, proibia voos de reconhecimento perto da fronteira. Os militares argumentavam que isso reduzia a capacidade da Coreia do Sul de monitorar os movimentos das tropas no norte e de se antecipar e resistir a qualquer ataque repentino.
Coreia do Norte abandonou acordo
Na quinta-feira, a Coreia do Norte dobrou a aposta ao anunciar que estava se retirando totalmente do acordo. Um comunicado do Ministério da Defesa, divulgado pela agência de notícias estatal KCNA, afirma que suas forças “não estarão vinculadas” ao pacto e que todas as medidas militares “serão retomadas imediatamente”. E acrescenta que a Coreia do Sul vai “pagar caro” pela sua decisão de se retirar de parte do acordo.
Já então analistas disseram que uma das primeiras decisões seria a restauração e reocupação de postos de vigilância dentro da DMZ.
Também poderão ser retomados os exercícios de artilharia perto da disputada fronteira marítima ao largo da costa oeste da península, e as manobras de inverno, em dezembro, deverão ser maiores do que nos anos anteriores.
Há também preocupação com o desenvolvimento de armas nucleares por parte de Pyongyang. A Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) confirmou que a unidade de pesquisa nuclear norte-coreana de Yongbyon retomou as atividades, e serviços secretos sul-coreanos alertaram que um sétimo teste nuclear subterrâneo poderá ocorrer em 2024.
Ex-agente: Acordo já estava morto
O ex-embaixador e ex-chefe da espionagem sul-coreana Rah Jong-yil declarou à DW que era inevitável que as tensões aumentassem na península assim que o acordo fosse rescindido, mas argumentou que, na prática, o pacto já era letra-morta havia algum tempo. “Eu diria que o fim do acordo em si não é tão significativo, pois o Norte havia repetidamente violado os seus termos nos últimos anos”, observou.
Rah acrescentou que o Ministério da Defesa em Seul listou pelo menos 75 violações do acordo pelo lado norte-coreano desde que foi assinado, a maioria delas voos de drones operados na zona de exclusão aérea ao longo da fronteira, aparentemente com a intenção de testar a capacidade de detecção e resposta da Coreia do Sul.
“E agora que colocaram um satélite de reconhecimento em órbita, pode-se argumentar que grande parte do acordo de 2018 deixou de fazer sentido de qualquer maneira”, acrescentou.
Para ele, é importante prestar atenção aos fortes investimentos em armas pela Coreia do Norte, o que o regime chama de sua “capacidade tridimensional”: armas nucleares, mísseis de longo alcance – incluindo mísseis lançados por submarinos – e armas espaciais. “Esse é o desafio em que devemos nos concentrar agora”, destacou.
O Presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luís Roberto Barroso, se manifestou após a indicação de Flávio Dino, pelo presidente Lula. Barroso afirmou que Dino é uma escolha feliz e que o ex-governador do Maranhão é uma pessoa preparada para o STF.
“Eu acho que é uma escolha feliz, de uma pessoa preparada. Eu, pessoalmente, quero muito bem a ele. Portanto, que vejo todas as qualificações do ministro Flavio Dino e que será recebido pelo Supremo com muita alegria, muita cordialidade, como alguém que vai agregar valor.”, declarou Barroso. Sobre Gonet na PGR, Barroso também teceu elogios ao nome. “Paulo Gonet Branco também é um professor de qualidade, autor de um livro clássico, junto com o ministro Gilmar Mendes, ele foi procurador-geral eleitoral, vice-procurador-geral eleitoral, e eu tenho uma grande condição como presidente do TCE. Somos amigos, quero muito bem a ele. Acho que o presidente também aqui escolheu uma pessoa de alta qualidade, de modo que o país estará bem servido nesses dois postos importantes da República”, disse.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva confirmou as indicações do ministro da Justiça, Flávio Dino ao cargo de ministro do Supremo Tribunal Federal e do jurista Paulo Gonet ao cargo de procurador-geral da República.
O senador Davi Alcolumbre afirmou a Lula que irá pautar na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), do Senado, as duas indicações ainda neste ano. E garantiu que consegue aprovar os dois nomes. Mas alertou que no plenário a história é outra.
Em caso de aprovação na CCJ, tanto Flávio Dino quanto Paulo Gonet precisarão ser aprovados pela maioria absoluta dos parlamentares no Senado, ou seja, 41 votos favoráveis de 81 senadores.
O deputado federal André Janones (AVANTE-MG) solicitou que os assessores de seu gabinete, na Câmara dos Deputados, destinassem uma parte de seus salários para custear suas despesas pessoais. A prática, conhecida como “rachadinha”, configura enriquecimento ilícito, dano ao patrimônio público e pode resultar em inelegibilidade, de acordo com o entendimento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Aúdio obtidos pelo portal Métropoles mostram o deputado dizendo como pretendia gastar os valores provenientes dos salários dos servidores públicos lotados em seu gabinete. “Casa, carro, poupança e previdência”, disse em áudio.
Janones, que obteve 238 mil votos em Minas Gerais, não sabia que estava sendo gravado.
A reunião com assessores aconteceu nas dependências da Câmara dos Deputados, na sala de reuniões do partido Avante, ao qual Janones pertence. Em outro trecho do áudio, Janones busca sensibilizar os servidores.
“Algumas pessoas aqui, que eu ainda vou conversar em particular depois, vão receber um pouco de salário a mais. E elas vão me ajudar a pagar as contas do que ficou da minha campanha de prefeito. Porque eu perdi R$ 675 mil na campanha. ‘Ah isso é devolver salário e você tá chamando de outro nome’. Não é. Porque eu devolver salário, você manda na minha conta e eu faço o que eu quiser”, tentou convencer Janones.
O deputado prosseguiu: “O meu patrimônio foi todo dilapidado. Eu perdi uma casa de R$ 380 mil, um carro, uma poupança de R$ 200 mil e uma previdência de R$ 70 (mil). Eu acho justo que essas pessoas também participem comigo da reconstrução disso. Então, não considero isso uma corrupção”, afirmou.
Na sequência, Janones alegou que não seria legítimo os assessores ficarem com 100% de seus salários: “Por exemplo, o Mário vai ganhar R$ 10 mil [por mês]. Eu vou ganhar R$ 25 mil líquido. Só que o Mário, os R$ 10 mil é dele líquido. E eu, dos R$ 25 mil, R$ 15 mil eu vou usar para as dívidas que ficou [sic] de 2016. Não é justo, entendeu?”.
Ao mesmo tempo em que tentava justificar a rachadinha, Janones deixou claro que a divulgação dessa prática poderia ameaçar seu mandato como deputado federal. Durante sua declaração, o parlamentar tentou transmitir a ideia de que não se importaria muito caso fosse alvo de denúncias.
“E se eu tiver que ser colocado contra a parede, eu não tô fazendo nenhuma questão desse mandato. Para mim, renunciar hoje seria uma coisa tão natural. Se amanhã vier uma decisão da Justiça: ‘o André perdeu o mandato’, você sabe o que é eu não me entristecer um milímetro?”, disse.
O responsável pela gravação do áudio foi o ex-assessor de Janones, o jornalista Cefas Luiz. O áudio em questão é de 2019, e foi feito logo após a primeira eleição do parlamentar. O jornalista anunciou que entregará a gravação à PF, junto com outras evidências de possíveis irregularidades que teriam ocorrido no gabinete do deputado.
A Presidência da República autorizou na última quinta-feira que dois assessores deixem o país para acompanhar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) na posse do presidente eleito na Argentina, Javier Milei. Em despacho publicado no Diário Oficial, permite que os servidores Jossandro da Silva e Estácio Leite da Silva Filho se ausentem do Brasil entre os dias 7 e 11 de dezembro. A posse do argentino ocorre no próximo dia 10. A informação foi inicialmente divulgada pelo portal Metrópoles e confirmada, em seguida, pelo Globo. Os dois funcionários fazem parte do quadro da Secretaria Executiva da Casa Civil e atuam diretamente junto aos ex-mandatários. Por segurança, ao final do mandato, o então governante passa a ter direito a oito servidores, seis de apoio pessoal, e dois motoristas junto a veículos oficiais da União. Essas despesas são regularizadas pela Lei de 1986 e são custeadas pelo governo federal.
No dia seguinte, após a confirmação da eleição de Milei, o presidente eleito convidou Bolsonaro para a sua posse em uma videochamada. O ato foi divulgado nas redes sociais do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP): “Aceitamos o convite de Milei e estaremos em Buenos Aires para sua posse”, escreveu o filho do ex-presidente brasileiro no X (antigo Twitter).
O convite gerou mal-estar entre articuladores de Lula (PT). Neste domingo (28), contudo, Diana Mondino, futura chanceler de Milei, se reuniu com o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira.
A questão é que Milei atacou Lula durante a campanha. Chamou o presidente brasileiro de corrupto, razão pela qual Lula teria sido preso. As relações bilaterais acabaram comprometidas e Mondino veio a Brasília para tentar aparar as arestas. Na ocasião, Mondino entregou uma carta com um convite pessoal para que o petista esteja na solenidade.
A presença do chefe do Executivo brasileiro, todavia, não é dada como certa. Isto porque Milei passou sua campanha inteira atacando Lula. Em manifestações públicas, chamou o presidente brasileiro de corrupto e o acusou de tentar interferir no processo eleitoral argentino, em prol do candidato de esquerda peronista que ficou em segundo lugar na disputa, Sergio Massa.
Os danos que o tabagismo causa nos pulmões são conhecidos, mas o cigarro também afeta os ossos e demais estruturas do sistema musculoesquelético. A informação já era de conhecimento de pesquisadores, especialmente do campo da ortopedia, que realizavam estudos clínicos. No entanto, a ciência ainda não entendia como as substâncias do cigarro deixavam os ossos mais frágeis.
Para tentar fornecer essas respostas, estudos foram publicados ao longo dos últimos quatro anos por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP). Ao Estado de S.Paulo, Fernanda Degobbi, do Instituto dos Laboratórios de Investigação Médica (LIM) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, disse que era procurada por médicos que buscavam entender por que os ossos dos fumantes “quebravam tanto”.
“Estudos anteriores já mostravam que os ossos dessas pessoas são mais porosos, mas não víamos trabalhos estudando a fundo esses tecidos” afirmou ela, que coordena uma equipe de 11 cientistas, entre biólogos, médicos e biomédicos. O grupo estuda a doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e danos extrapulmonares do tabagismo.
Em artigos publicados entre 2020 e 2023, os estudiosos indicaram que a exposição ao fumo leva à morte mais rápida das células responsáveis pela produção da matriz óssea, rica em colágeno do tipo 1, que dá resistência aos ossos. A descoberta se deu, inicialmente, em estudo experimental com camundongos. Depois, foi confirmada em estudo clínico que analisou tecidos ósseos de pacientes submetidos à cirurgia de quadril.
“O tabagismo altera o metabolismo das células” Conforme os estudos, o cigarro deixa mais ativo os osteoclastos, um grupo de células responsáveis pela desintegração e reabsorção do tecido ósseo. Ao Estado de S.Paulo, Fernanda afirmou que o tabagismo “altera o metabolismo das células”, de modo que “as células que ‘comem’ osso (osteoclastos) vão comer muito mais osso, enquanto as que produzem colágeno tipo 1 (osteoblastos) ficam menos ativas”.
Ainda conforme publicado, as análises dos pesquisadores revelaram que as mudanças estruturais do tecido ósseo ocorrem também graças ao processo inflamatório causado pela exposição à fumaça do cigarro. Além disso, parte do nado permanece mesmo em pacientes que pararam de fumar tabaco há mais de uma década. Segundo Fernanda, essas pessoas “até recuperam o volume de osso, mas com uma qualidade ruim”.
Os resultados preliminares de um estudo em andamento também indicam, segundo o Estado de S.Paulo, que o fumo causa danos às cartilagens das articulações. Conforme a pesquisa, a exposição às substâncias tóxicas do cigarro aumenta a morte dos condrócitos, responsável pelo colágeno tipo 2, componente principal do tecido cartilaginoso das articulações.
A dificuldade do Palácio do Planalto para acomodar interesses de parlamentares sem perder a autonomia sobre a execução de políticas públicas prejudicou o desempenho do governo nas votações no Congresso. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu transformar em lei apenas um quarto dos projetos que enviou ao Legislativo até agora. Desde janeiro, o Executivo apresentou 75 proposições, mas só 18 passaram. É o pior resultado em 33 anos, o que inclui os dois mandatos anteriores do petista. Analistas atribuem o baixo índice de sucesso à queda de braço travada com o Parlamento por protagonismo. Levantamento feito pelo GLOBO mostra que Lula teve resultado pior até mesmo do que o ex-presidente Jair Bolsonaro, que foi eleito por um partido até então nanico (PSL, hoje União Brasil) e sem um arco de alianças que o ajudasse a formar uma base aliada. Em seu primeiro ano de governo, em 2019, quando ainda não tinha apoio do Centrão, ele aprovou 25 das 79 propostas apresentadas, o equivalente a 32%. A conta inclui projetos de lei, Propostas de Emenda à Constituição (PEC) e Medidas Provisórias (MP).
O percentual registrado por Lula está abaixo ainda da média dos anos em que Dilma Rousseff ficou no comando do país, 57%. Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), com 46%, Itamar Franco (1992-1994), 46%, e Fernando Collor (1990-1992), 55%, também obtiveram resultados melhores. A maior eficácia na aprovação de propostas de autoria do Executivo é do próprio petista, em 2006, quando conseguiu transformar em lei 84 das 105 medidas enviadas naquele ano, um recorde de 80%. Procurado, o governo não comentou.
Na gaveta Entre os projetos enviados por Lula neste ano e que ficaram parados na Câmara está o chamado “pacote da democracia”, elaborado pelo Ministério da Justiça como resposta aos atos de 8 de janeiro. A proposta que endurece punições a golpistas e prevê o crime de financiamento de tentativa de golpe de Estado foi enviado em julho, mas não teve qualquer andamento na Casa até agora.
Apresentado um mês antes, outra proposta do governo sem qualquer previsão de ser votada cria novas formas de controle da compra e venda de ouro como tentativa de combater o garimpo ilegal. O Executivo também enviou um projeto para a Câmara que propõe uma estratégia para prevenção da violência nas unidades de ensino, resposta ao ataque a uma escola no Paraná em junho deste ano. A medida ficou três meses engavetada antes da definição de um relator, o deputado Jorge Goetten (PL-SC), no mês passado, e ainda não foi analisada em nenhuma comissão.
Para o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (sem partido-AP), esse cenário já era esperado desde antes de Lula assumir, principalmente após a eleição de uma maioria de parlamentares conservadores. Partidos com bandeiras de direita conquistaram a maioria na Câmara, como PL (96), PP (50) e Republicanos (41). Já no Senado, das 27 cadeiras em disputa em 2022, 14 foram ocupadas por aliados de Bolsonaro.
— O governo tem consciência dessa realidade, mas conseguimos aprovar todas as matérias importantes de interesse do Executivo — disse Randolfe ao GLOBO.
Entre os exemplos citados por ele está a aprovação do arcabouço fiscal, considerada pelo Palácio do Planalto uma das suas principais vitórias nesse primeiro ano de mandato. O texto passou com ampla margem de votos na Câmara e no Senado. Mesmo em casos bem-sucedidos, contudo, o governo precisou suar a camisa e ceder a aliados para conseguir a aprovação, como na medida provisória que reestruturou a Esplanada dos Ministérios. A proposta foi negociada até o último minuto, e o Palácio do Planalto teve que atender à demanda do Centrão.
Após essa medida provisória ser aprovada, outras foram “canceladas” e tiveram de ser transformadas em projeto de lei pelo governo, como a que trata do voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recurso Fiscal (Carf) e a do programa de aquisição de alimentos (PPA). A estratégia se deu após uma disputa entre os presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), sobre a composição das comissões que analisam as MPs. A queda de braço acabou por paralisar a votação das medidas.
Ex-ministro da Coordenação Política e Assuntos Institucionais no primeiro mandato de Lula, Aldo Rebelo acredita que o resultado é um sinal que o governo precisa fortalecer sua base aliada.
Além disso, o Congresso ameaça derrubar nos próximos dias vetos de Lula em alterações feitas pelos parlamentares em projetos do Executivo. Na lista estão mudanças no novo arcabouço fiscal e na proposta que trata do Carf. Outro veto presidencial que deve cair é o que impediu a criação de um marco temporal para a demarcação de terras indígenas no país. Embora a proposta seja de autoria do Congresso,mexe num assunto que é bandeira do governo.
— Quando o governo, mesmo depois de ter enviado a matéria, desconfia que ela pode ser derrotada, o próprio governo trata de impedir a votação, de retirar e arquivar — disse Rebelo.
Já o líder do PT na Câmara, deputado Zeca Dirceu (PR), discorda que haja dificuldades no Congresso e lembra que Lula conseguiu aprovar projetos de seu interesse, mesmo antes de assumir o mandato, como a PEC da Transição, que permitiu ao governo manter promessas de campanha, como o aumento no benefício do Bolsa Família.
—É um equívoco medir sucesso do governo pela quantidade de projetos aprovados, o importante e que mostra nosso sucesso este ano, é medir pela qualidade e importância dos projetos aprovados. Nunca se aprovou tantos projetos benéficos ao governo e ao Brasil como agora — disse Zeca.
Queda de braço Cientistas políticos avaliam que a disputa por protagonismo entre os dois Poderes, além de influenciar no volume de projetos aprovados, inclui também o controle do Orçamento.
— O cristal estilhaçou de uns tempos para cá, esse é o recado que esses números mostram. De alguma forma está deixando de ter esses padrões de governabilidade antes conhecidos e isso não tem a ver com especificamente a qualidade da liderança — afirma o cientista político Leandro Consentino, professor do Insper.
Graziella Testa, da Fundação Getulio Vargas, relaciona o poder de influência do Congresso sobre o governo com as emendas que o Parlamento passou a ter ascendência. Ela lembra que mesmo antes das chamadas emendas de relator, base do orçamento secreto, o Executivo já vinha perdendo o controle sobre a execução de parte das verbas. Historicamente, o pagamento desses recursos costuma servir ao governo da ocasião para barganhar apoio na Câmara e no Senado e ser usado como moeda de troca em votação de seu interesse.
— Existe um ganho de importância do Legislativo em relação ao Executivo, sobretudo de 2015 para cá, com as emendas impositivas, além de algumas ferramentas novas que trouxeram prerrogativas para o Congresso — disse ela.
Fábio Jr surge no vídeo solto, com o garbo e o ar meio libertário que sempre exalou. Nem parece, mas fez 70 anos esta semana. Para comemorar, iniciou uma nova turnê, “Bem mais que os meus 20 e poucos anos” — brincadeira com um de seus primeiros hits, composto ao fim do primeiro de sete casamentos. O paulistano Fábio Corrêa Ayrosa Galvão começou cedo no showbiz, aos 12 anos. Aos 13, já atuava com Cacilda Becker na TV Bandeirantes. Depois, se lançou cantando em inglês com os pseudônimos Uncle Jack e Mark Davis. Mas em 1976 lançou o primeiro disco com o nome artístico definitivo: “Fábio Jr”, de 1976, que inclui várias letras de Paulo Coelho. O estouro viria em 1978, ao cantar “Pai” na série “Ciranda Cirandinha”, da Globo.
Ele nunca deixou de atuar (são 20 trabalhos entre cinema e TV), mas a música se sobrepôs. Segundo o Ecad, ele tem 133 composições e gravou, ao todo, 558 canções.
Durante a conversa, ele se mostra espiritualizado (vez ou outra, agradece a quem chama de “moçada da luz”) e relembra seu pai, que mudou sua carreira ao dizer “você é romântico”. Também comenta a imagem de símbolo sexual e se posiciona contra o sensacionalismo: “Antes de ser artista, sou um homem”.
Seu primeiro disco como Fábio Jr, de 1976, tem muita atitude, uma pegada rock’n’roll. Era seu interesse na época?
Eu amo soul music, por exemplo. Nesse disco, tem “Carona”, do Tony Bizarro, que era da turma do Tim Maia. Cassiano é um mestre. Hoje as pessoas brincam de fazer melismas… você precisava ouvir o Cassiano!
Tem a história de que a Elis Regina, com quem você teve um caso, te chamou para gravar um disco com ela. Isso aconteceu? Se arrepende de não ter feito?
Aconteceu. Não me arrependo. Você acha que seria maluco, eu, um moleque que estava começando, de gravar um disco com Elis Regina? Não sou louco. Iam falar: “Quem é esse babaca?”
E o que levou à guinada para o romantismo?
Me tornei romântico não porque quis, e sim porque sou. Lembro de uma conversa com o meu pai. Ele falou: “Nego, você é romântico. Não precisa ficar fazendo um monte de coisa, faz o que é da sua natureza”. Com isso, fiquei mais romântico ainda.
Você já disse outras vezes que não havia superado a morte do pai. Como é hoje, aos 70?
É uma ausência muito presente. Porra, lembro de cada história dele que… meu Deus do céu! Ele arranhava o violão, fazia seresta pra minha mãe. Xavequeiro pra caramba. Me deu o violão dele, eu tinha uns 10 anos. Eu canto “Pai” há 45 anos, e tem dia que o bicho pega. Até hoje. Ele morreu aos 53, novo pra caramba.
A TV fez de você um dos grandes símbolos sexuais da sua geração. Como lida com isso?
Eu pesava 53kg em “Ciranda cirandinha”. Símbolo sexual como? (risos) Mas sei do que você está falando. Me ajudou a ficar mais conhecido.
Costuma se irritar com a imprensa?
Não. O que não suporto é quando passam da linha do respeito. Porque antes de ser artista, sou um homem, eu trabalho, tenho filhos. Então, pra cima de mim, não. E me enchia o saco quando perguntavam assim: (tom de deboche) “Você é ator ou cantor?” Eu pensava: “Não acredito que vocês estão me perguntando isso. Eu tenho que cortar um braço pra usar o outro?
Elvis e Frank Sinatra também eram atores e cantores.
São dois bons exemplos. Na época deles não tinha essa encheção. Comigo foi assim, música e dramaturgia. É puxado pra caramba.
Como você exerce sua religião? É católico?
Eu ia muito na missa quando era moleque, mas era pra xavecar as meninas (risos). Vou no básico. Religião significa reunir, religar. Uma atitude em prol da reunião das pessoas. Com leveza, com nobreza, com prosperidade espiritual e material. A gente está encarnado no nosso planetinha azul aqui e cada um com muita coisa pra fazer. Se a religião fosse mais presente, nesse sentido, não haveria essas guerras religiosas. Isso do ser humano matar outro por território ou por crença… eu não entendo essa porra.
Em entrevista à Marília Gabriela, em 1998, você disse que sua mãe o ajudou a “não despirocar”. Como foi esse momento?
Minha mãe era muito rigorosa. Se dos 12 aos 21 anos você não for indisciplinado, bagunceiro, algo está errado. Mas atravessei algumas turbulências no caminho. Só que sabia qual nave eu estava pegando, pra onde ela ia e ainda está indo.
Na mesma entrevista, você falou que tinha começado a fazer academia para “inverter um pouco o horário”, porque sempre foi “da noite”. Esse plano deu certo?
Advinha quanto tempo eu fiquei na academia? Tcharan! Quinze minutos (risos). Eu tentei. Mas mudei um pouco e, de um tempo pra cá, venho tentando me disciplinar. Faço exercícios, fisioterapia, caminhada. Não vou virar atleta nunca, nem pretendo. Mas é pra eu poder me sentir bem.
Você sofreu bullying na escola por já saber, desde cedo, que se tornaria o que se tornou, né?
Me zoavam pra caramba. (imita voz debochada) “Olha ele aí, vai ser artista. Canta aí pra gente, então….” Mas eu tinha certeza. Como vou explicar isso? Acho que é a moçada da luz. Aos 12, comecei profissionalmente. Sei lá, era uma intuição muito forte que eu acho que é uma conexão que a gente tem com a “moçada da luz”. Para mim, é isso.
Nunca pensou em trabalhar com outra coisa?
Cheguei a cursar Comunicação, Letras, Turismo, Filosofia. Mas não fiz nenhuma, né? Fiz um ano aqui, um ano ali (risos). Eram temas que me interessavam muito, mas estava sempre trabalhando na música ou fazendo algo como ator. Quando ninguém me conhecia ainda, fiz na TV Cultura um especial com o Paulo Autran, dirigido pelo Walter George Durst, “Um pássaro em meu ombro”. Sempre tive muita sorte (faz sinal de aspas quando fala “sorte”). Muita proteção, muita bênção.
Você ainda tem o costume de pescar no seu sítio?
Sim. Tem uma frase de um dos meus ídolos, Renato Teixeira, “o simples resolve tudo” (começa a cantarolar “Irmãos de Lua”, de Teixeira). Eu gosto de ir por aí. De porta a porta, da minha casa pro sítio dá uma hora.
Continua cantando por paixão ou porque precisa?
Não tenha dúvida disso (seguir trabalhando porque tem paixão). Mas todos precisamos.
Uns mais, outros menos, né…
Uns ganham bem e gastam mal. Outros ganham menos e gastam direito. Eu não tive muita educação financeira nem gestão. Hoje eu tenho (aponta para a esposa, Maria Fernanda Pascucci, próxima a ele na videochamada). Ela cuida da minha vida com formação de gestão de negócios, de pessoas, administração de empresa, marketing. Então, juntei o útero ao agradável.
Como foi aquele lance de tentar ser dono de uma emissora de TV, nos anos 1990?
Um amigo que eu tinha na época, maluco, um grande empresário, mas completamente maluco, falou pra gente entrar na licitação. Mas é uma coisa muito complicada. Graças a Deus não deu certo (ergue as mãos pro céu). Graças a toda a moçada aí.
Por falar no universo da comunicação, como você lida com redes sociais?
O que me incomoda nessa coisa de rede social e internet, de um modo geral, é que está acontecendo um paradoxo. O mundo está globalizado, e isso é muito bom, só que junto com isso, no bojo dessa globalização, vem a impunidade de pessoas irresponsáveis, de pessoas que falam e não se apresentam, são covardes. Você pode pegar esse aparelho (aponta para o celular) e fazer o que quiser da vida dos outros, julgar e condenar. É o preço? Não sei, mas é assim que está acontecendo. E você fala com um amigo seu do Japão, mas não fala com quem está do seu lado aqui. Tá todo mundo assim (imita alguém com a cara enfiada no celular). Estou errado? Me irrita muito. Meus filhos já nem ficam assim na minha frente.
Com todas as discussões atuais sobre feminismo e machismo estrutural, chegou a fazer algum movimento de desconstrução da sua masculinidade?
Eu acho que faço isso sem esforço nenhum. Conheço minha natureza como ser humano, como homem.
Considerada uma das mais importantes ativistas africanas, Graça Machel é muitas em uma só. Foi professora e guerrilheira, quando lutou com a Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) durante a luta pela independência de Moçambique, onde nasceu, em 1945. Foi também ministra da Educação do governo do presidente Samora Machel, seu então marido, por 14 anos. Após a morte de Machel, em 1986, em um acidente de avião até hoje questionado, continuou a sua atividade política e criou uma organização sem fins lucrativos, a Fundação para o Desenvolvimento da Comunidade. Em 1990, foi nomeada pelo secretário-geral da ONU como especialista independente para avaliar o impacto dos conflitos armados nas crianças. Seu relatório, o Relatório Machel, estabeleceu uma agenda nova e inovadora para a proteção de crianças envolvidas em guerras, mudando a política e a prática de governos, das agências da ONU e da sociedade civil internacional. Em 1998, aos 53 anos, casou-se com Nelson Mandela, o primeiro presidente negro da África do Sul, símbolo da luta contra o apartheid — título pelo qual é lembrada até hoje. Defensora da valorização das comunidades, em 2010 fundou ainda a Graça Machel Trust, ONG que auxilia mulheres empreendedoras no continente africano. E, desde 2018 , também é vice-presidente do The Elders, grupo que reúne grandes líderes globais, ao lado do ex-secretário-geral da ONU Ban Ki Moon.
Prestes a completar 78 anos, Graça Machel continua sendo muitas. Em entrevista exclusiva ao GLOBO durante sua participação no Rio Innovation Week, quando foi aplaudida de pé, Machel falou sobre os atuais desafios de seu ativismo na luta pela igualdade de gênero, sobre racismo no Brasil e sobre o título de primeira-dama de Moçambique e da África do Sul. “Sou ativista e é assim como eu sou conhecida, não só nesses dois países, mas no mundo”. Ela também celebrou o Prêmio Nobel da Paz concedido à ativista iraniana Narges Mohammadi no mês passado: “Ela está fisicamente presa, mas é uma mulher livre, que não cabe nas paredes da cela onde está.
Como o papel das mulheres na luta armada na Frelimo influenciou sua perspectiva sobre os direitos das mulheres?
Um dos grandes segredos do sucesso da Frelimo na luta pela independência foi ter compreendido muito cedo que as mulheres tinham que estar presentes em todas as frentes, incluindo a frente de luta armada. Que as mulheres não deviam estar presentes apenas para apoiar, mas que tinham que estar no treinamento, no combate, na educação, na administração. As mulheres foram integradas em todos os setores e isso sacudiu o meu entendimento sobre a igualdade de gênero. A igualdade não é uma teoria, é preciso colocá-la em prática. E a Frelimo ensinou a nós, mulheres, a assumirmos as nossas responsabilidades em todas as experiências, e por isso aprendemos a ser iguais.
Quais foram os desafios e as pressões que a senhora enfrentou como mulher do presidente Samora Machel e como isso influenciou suas próprias visões de mundo?
O primeiro desafio foi ter sido ministra da Educação aos 28, quase 29 anos, sem nenhuma experiência de liderança. Para mim foi um choque, mas também foi a expressão de um voto de confiança nas minhas potencialidades. O segundo aspecto é que eu era a única mulher no Conselho de Ministros e o presidente desse conselho era meu marido. Então eu tinha que me posicionar como uma entre todos eles, mas ao mesmo tempo ter consciência de que precisava manter a distância e nunca olhar para o presidente Samora como meu marido, mas sim como chefe do meu governo.
E sendo a única mulher no governo, eu sabia que todas as mulheres moçambicanas iriam ser julgadas através da minha performance. Se eu fizesse um bom trabalho toda a sociedade acreditaria nas mulheres; se eu não fizesse, toda sociedade diria: ‘demos uma oportunidade às mulheres e elas não aproveitaram’. Foi uma experiência muito desafiadora do ponto de vista pessoal. E, olhando para trás, considero que consegui resultados positivos porque me cerquei de pessoas que tinham mais conhecimento do que eu, que tinham mais experiência, e trabalhamos coletivamente. Isso me enriqueceu e me ensinou a liderar equipes. Tivemos alguns dos resultados que são considerados ainda hoje como os melhores do primeiro governo do país.
A senhora é a única mulher que foi primeira-dama duas vezes no mundo. Como essa experiência influenciou seu ativismo? Esse título lhe incomoda?
Definitivamente me incomoda, porque não é isso que me define. E a Graça que eu sou não é aquela que foi a primeira-dama. Em Moçambique, na verdade não trabalhei como primeira-dama, mas como ministra da Educação. Quando eu deixei o governo, as pessoas continuaram a me tratar como ministra, nunca como primeira-dama. Foi a minha presença no governo que me definiu como pessoa e não o meu casamento. Em relação à África do Sul, me casei com Mandela pouco tempo antes de ele deixar de ser presidente, portanto não quis me envolver a fundo nas questões como primeira-dama. Eu já tinha uma longa carreira como ativista social, já tinha até trabalhado para as Nações Unidas. Tinha o meu próprio trabalho e meu espaço muito bem consolidados e me mantive ali. Os sul-africanos me tratam como mãe, não como primeira-dama. Porque foi isso mesmo que eu fui: continuei trabalhando com mulheres, jovens e crianças. Sou ativista e é assim como eu sou conhecida, não só nesses dois países, mas no mundo.
Narges Mohammadi, ativista da luta por direitos da mulher no Irã, ganhou o Prêmio Nobel da Paz. Qual a importância desse prêmio na luta pelos direitos das mulheres?
Estou empolgada e orgulhosa pelo reconhecimento que está sendo dada a ela. Sua história e sua participação na luta por direitos humanos não têm paralelo. Poucas pessoas passaram pela confrontação e ao mesmo tempo persistiram, não se vergaram. Ela hoje está na prisão, mas é naturalmente um dos espíritos mais livres que existem. Está fisicamente presa, mas é uma mulher livre, que não cabe nas paredes da cela onde está. Por isso, todas nós mulheres e homens progressistas do mundo celebramos esse prêmio como a vitória da coragem, da determinação e da persistência.
Promessa de campanha, o presidente Lula costuma dizer que a retomada das relações entre Brasil e o continente africano é “uma reparação histórica, uma obrigação humanitária”. Como a senhora vê a responsabilidade do Brasil nesse sentido?
Lula está sendo muito verdadeiro com a sociedade brasileira, em primeiro lugar. Se este país tem quase 56% da população com sangue preto, porque são pretos ou pardos, Lula tem obrigatoriamente que reconhecer que há uma ligação, que não é apenas histórica mas de sangue, com a África. O fato de Lula tomar iniciativas arrojadas para se reconectar com a África é um reconhecimento de que há uma relação de um passado comum, que só vai nos enriquecer se continuamos trabalhando juntos agora, no presente e no futuro. Esse é o primeiro aspecto. Em segundo lugar, o Brasil está entre as dez economias mais poderosas no mundo. Portanto tem um papel no contexto global, de relevo. E olhando para o futuro da família humana hoje só faz sentido o Brasil se conectar, por exemplo, à Ásia e à África porque esses são os continentes do futuro. E o futuro do Brasil tem que estar onde estão as maiores oportunidades de um futuro comum. É por isso que ele está estreitando as relações dentro dos Brics, mas particularmente dando uma importância à África. Ele está mostrando um comprometimento com o futuro, onde esse futuro reside. E está sendo um bom presidente para os africanos.
O Brasil é o país que mais recebeu escravizados no mundo, e hoje ainda lida de maneira incipiente com o seu racismo. O que ainda precisa ser feito?
Sei que aumentou o número de pessoas negras neste governo, e foi criado o Ministério da Igualdade Racial. Essas ações deliberadas que instituem e institucionalizam mudanças na sociedade são extremamente importantes e vão fazer a mudança. É verdade que essa mudança ainda é incipiente, porque está sendo feita só agora, em 2023, quando deveria ter começado há muito tempo. Mas acredito que são ações pertinentes e estruturantes. O espaço parece estar mais aberto do que nunca, e nós como cidadãos devemos aplaudir essas ações mas também devemos dizer que é preciso fazer mais, porque é possível fazer mais.
Nós temos que ajudar a traçar uma agenda, que não é do governo, mas tem que ser da sociedade. Principalmente porque sabemos que no Congresso essas mudanças estão sendo combatidas porque nem todos acreditam na igualdade racial e das mulheres, e vão fazer tudo para frustrar as iniciativas do governo. Por isso, só poderemos fazer mais com um total apoio da sociedade, da imprensa. Vocês têm que ter uma agenda clara também. Como vocês promovem a igualdade das mulheres e racial? Como os preconceitos são combatidos hoje? Vocês, como imprensa, têm um privilégio porque entram nas casas de todos. Todos nós temos responsabilidades, intelectuais, organizações da sociedade civil, do setor privado. Cada um de nós tem que ter a sua forma de contribuir e eu acredito que, em quatro anos, o Brasil pode mudar muito.
Um estudo da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), divulgado em maio deste ano, já mostrava o ressurgimento desse sorotipo da dengue e, na última semana, foram confirmados quatro casos na cidade de Votuporanga, no interior paulista.
O primeiro caso, detectado em uma mulher de 34 anos, chamou a atenção por causa da intensidade dos sintomas clássicos da doença, como febre, vômito, dor e manchas vermelhas pelo corpo, além de sangramento nasal e pela urina.
Segundo a Secretaria Municipal de Saúde de Votuporanga, sete casos foram considerados suspeitos. O resultado das amostras colhidas indicou que, dos sete, três eram do tipo 3 da dengue, sendo todos do sexo feminino, com 5, 31 e 46 anos. Todos os casos ocorreram na mesma região, em um bairro da zona sul da cidade. Os quatro pacientes estão em casa e passam bem.
rebaixamentos nos últimos anos, o time dominou o Campeonato Brasileiro de futebol com um desempenho avassalador. A certa altura, a distância para o segundo colocado chegou a ser de (quase) inalcançáveis 13 pontos. Parecia questão de tempo: o clube voltaria a ganhar um título nacional após 28 anos. O ímpeto, contudo, minguou nas últimas rodadas e a conquista, que parecia assegurada, agora está sob ameaça de outros postulantes. Essa comparação futebolística, tão ao gosto do presidente Lula, infelizmente se assemelha à da economia brasileira em 2023. No início do ano, ninguém diria que o Botafogo seria capaz de disputar o troféu nacional, já que o desempenho nos anos recentes era medíocre. Da mesma forma, parecia improvável que a economia cresceria acima de 1% diante das desconfianças que pairavam sobre o novo governo. Mas o novo arcabouço fiscal foi aprovado, a reforma tributária andou e a supersafra de grãos semeou o avanço do Produto Interno Bruto. As projeções de crescimento melhoraram — apontaram até mais de 3% de expansão. Na reta final, contudo, o Brasil vai chutando bolas para fora e, tal qual o Botafogo, mostra perda de fôlego para entregar o que estava prometido.
Segundo o IBC-Br, indicador que é considerado uma prévia da evolução do PIB, a economia brasileira encolheu 0,06% em setembro comparada a agosto, contrariando as expectativas de crescimento, que eram de pelo menos 0,2%. Além do arrasto negativo para o quarto trimestre (o que pode resultar até em uma recessão técnica), o número sugere que o avanço da atividade econômica fique mais perto dos 2,5% em 2023. Entre os conservadores, já se fala em variação do PIB de 2%, o que seria uma tremenda decepção diante da aposta do governo de que cresceria 3,2% no ano. Afinal, o que houve? Diversos fatores explicam o movimento. O setor de serviços, antes vigoroso, perdeu força. Impactado pela alta inadimplência e o crédito caro, o consumo não trouxe a pujança esperada. Por sua vez, o agro não foi mais aquela maravilha do início de ano. E, claro, há o temerário quadro de incertezas fiscais, que só traz desconfiança. “As projeções de crescimento foram feitas quando os números superaram as expectativas no primeiro semestre do ano”, disse a VEJA o economista e ex-ministro da Fazenda Marcílio Marques Moreira. “Agora, existe um ajuste na direção da verdade.”
O governo ainda não chegou naquele estágio em que a descrença ameaça frear o “espírito animal” dos empresários, para usar uma expressão consagrada pelo economista e ex-ministro da Fazenda, Delfim Netto, e que traduz o apetite por investimentos do setor produtivo. No mercado financeiro, contudo, há crescente desconforto com os desígnios econômicos do país. Uma nova pesquisa realizada pela Genial/Quaest não deixou dúvidas sobre isso: 77% dos 100 gestores, analistas e profissionais do ramo entrevistados no levantamento consideram a política fiscal inadequada o principal problema econômico do país. Além disso, 55% deles acreditam que a economia brasileira deverá piorar nos próximos doze meses.
Uma parte considerável das preocupações deve ser atribuída à política fiscal. Na quarta-feira 22, o Ministério da Fazenda informou que o déficit primário — ou o rombo das contas públicas, em bom português — em 2023 deverá ser de 177 bilhões de reais. Trata-se de uma piora inequívoca das expectativas. Em setembro, na previsão anterior, o tombo era de 141 bilhões, já elevadíssimo, portanto. Nesse contexto, ninguém mais acredita na realização de déficit zero em 2024, conforme promessa feita pela equipe econômica. A pesquisa da Genial/Quaest traduz tal suspeição – absolutamente todos os pesquisados disseram ser impossível zerar as contas públicas no ano que vem. Como os números não estão fechando, o governo anunciou um bloqueio adicional de 1,1 bilhão de reais no orçamento deste ano. Em 2023, o valor total dos bloqueios de despesas chegará a 5 bilhões de reais, com possibilidade nada desprezível de aumentar até 31 de dezembro.
Antes de a realidade se impôr, o presidente Lula e aliados próximos sugeriram revisar a meta fiscal do ano que vem, justamente para ter espaço para novos gastos. Naquele momento, ficou claro para todos que o governo desejava ter licença para gastar, pouco se importando com o equilíbrio das contas públicas. A sinalização de que a administração federal desistiu da meta fiscal foi mal recebida pelo mercado financeiro, por empresários e economistas — e o que se vê agora é a redução das expectativas em relação ao potencial de crescimento do país. Não custa lembrar: o desequilíbrio fiscal afeta a credibilidade do governo e, no final das contas, ameaça o desenvolvimento econômico por disseminar incerteza entre os investidores.
Uma corrente de especialistas também atribuiu a falta de ímpeto do PIB às taxas de juros elevadas. “A política monetária restritiva dificulta o crescimento”, diz Juliana Trece, coordenadora do Monitor do PIB da Fundação Getulio Vargas (FGV). Atualmente, a Selic está em 12,25% ao ano após passar meses em campo ainda mais restritivo — 13,75%. Sim, tal medida é um obstáculo para a expansão, mas é assim que se combate a inflação, um risco que, agora, graças à liderança de Roberto Campos Neto no Banco Central, está sob controle.
Em outubro, o IPCA cresceu 0,24%, ou 4,82% nos últimos doze meses. Como efeito de comparação, em 2022 a inflação oficial do país fechou em 5,78%. “A redução da taxa de juros demora um ano para ter efeito”, diz Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central. O Brasil, registre-se, lidera o ranking dos juros reais mais altos do mundo, aquele que leva em consideração a taxa nominal e a expectativa de inflação para os próximos doze meses.
Apesar da perda de fôlego, é preciso reconhecer que nem tudo está perdido. Além da queda da inflação, que deverá continuar derrubando os juros, a desvalorização do dólar, cuja cotação caiu 3,5% desde o fim de setembro, ajuda a conter a escalada dos preços. O movimento reflete mais entrada do que saída de moeda estrangeira, dado o excelente desempenho das exportações, que deverão apontar para um saldo positivo recorde na balança comercial deste ano, de 60 bilhões de dólares. Há também a reta final do processo de aprovação da reforma tributária, a perspectiva positiva de nova safra de grãos no ano e os bons índices de emprego. “O mercado de trabalho está robusto”, diz Alexandre Manoel, economista-chefe da AZ Quest e ex-secretário de Planejamento. “Devemos encerrar o ano com uma taxa de desemprego baixa, de 7,5%.” Ainda assim, é fato que estamos distantes de romper o ciclo de mediocridade que vem marcando a trajetória da economia brasileira há anos. Para o Brasil chegar ao lugar que merece, será preciso fazer muito mais.
Vem da mitologia grega a ideia de que uma figura como Eros, rebatizado de Cupido nos tempos romanos, escolhia a esmo pessoas que se encantariam umas pelas outras depois de flechadas por ele, o Deus encarregado do amor e da paixão, que tinha lá seus caprichos. Quando dava na telha, usava sua ferramenta de trabalho para promover combinações que desembocavam em pura desilusão. Estava ali embutido um conceito que viria a ganhar envergadura na era medieval — a do amor romântico, em que uma metade completaria a outra, numa fusão de porções diferentes que formariam um todo harmonioso. A lei da física que trata da atração magnética entre dois corpos eletricamente carregados examinou o tópico sob outra lupa — segundo ela, a força que aproxima dois objetos é sempre mais intensa quando eles contêm cargas opostas. Nos anos de 1950, o sociólogo americano Robert Winch enlaçou o raciocínio em um enunciado repisado até os dias de hoje: “Os opostos se atraem”, cravou em artigo publicado na American Sociological Review.
Agora, esse caldo feito de tão variadas leituras ganha nova luz depois de uma vasta pesquisa conduzida por psicólogos da Universidade do Colorado, recém-publicada no respeitado periódico Nature Human Behavior. Em uma ambiciosa empreitada, em que os especialistas aplicaram um mesmo formulário a 80 000 pessoas mundo afora, Brasil incluído, chegou-se a uma constatação que derruba o velho ditado: 89% dos entrevistados, engatados em relacionamentos sérios e felizes, segundo afirmavam, mantinham muito mais similaridades do que diferenças com seus parceiros.
Foram examinados ao todo mais de uma centena de itens — de hábitos a crenças religiosas, de escolaridade a personalidade e valores, abrangendo a postura frente à vida. Em geral, os que eram mais abertos ao novo, por exemplo, mantinham em dupla a curiosidade que os levava a percorrer inúmeras trilhas juntos. “Descobrimos que as pessoas vão ativamente atrás de quem compartilha semelhanças com elas, uma procura que é facilitada pelo fato de, não raro, estarem inseridos no mesmo contexto social”, disse a VEJA o americano Jared Balbona, um dos autores do estudo.
Um mergulho às raízes da psicanálise mostra que o primeiríssimo exemplo de afeto e amor vem de casa e se reflete em graus distintos ao longo da existência. “A forma como a criança é cuidada e a dinâmica dos elos estabelecidos pelos pais ficam marcados no inconsciente, sem que ele perceba, e influencia suas escolhas amorosas na idade adulta”, afirma a doutora em psicanálise Ana Suy, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. De acordo com o próprio Sigmund Freud (1856-1939), que fincou os pilares da teoria, o amor contém uma camada de narcisismo, uma vez que os enamorados sempre veem um pouco de si mesmos em seus pares. “Não escolhemos os outros ao acaso, mas encontramos aqueles que já existem em nosso inconsciente”, escreveu o pai da psicanálise.
O estudo americano atiça um debate que, como outros que mexem com a condição humana, revela variadas nuances. Ele sustenta que semelhanças, sobretudo no campo dos valores — visão de família, ética de trabalho, relação com dinheiro —, ajudam a firmar laços sólidos. Mas as inevitáveis diferenças que se pronunciam no dia a dia também contêm uma riqueza que engrandece o convívio e são, portanto, desejáveis. “Ser igual em tudo pode quebrar o encanto”, resume Ana Suy. Existe, no entanto, um limite para o fosso que às vezes separa um casal. “Conflitos são naturais, porém, quando as diferenças são tantas e é preciso negociar sobre absolutamente tudo, a situação acaba se tornando insustentável”, lembra a psicóloga Marta Souza, terapeuta de casais. Os estudantes de jornalismo Kezya Paiva e João Pedro Sabadini (ambos de 22, começando aí as similaridades) se conheceram na faculdade e contam que tiveram uma criação parecida, no interior, o que acabou por aproximá-los. “Nossas origens ajudam a explicar nossa forma de pensar em várias áreas”, avalia João Pedro.
A neurociência também se deteve sobre a lógica da atração humana, examinando o que se passa no cérebro quando dá o match, aquele clique que une duas pessoas. Já é bem sabido que a conexão não é produto de uma química aleatória: a efervescência observada na mente é fruto da identificação de qualidades mapeadas no outro que despertam sensação de familiaridade. A paixão, o amor — esses são sentimentos que logo põem em marcha os neurônios que atuam no chamado sistema de recompensa, regulado principalmente pela dopamina, que proporciona prazer. “Quando esbarramos com alguém que apresenta muito em comum conosco, os disparos neste sistema são ainda mais intensos”, esclarece o neurologista Ricardo Afonso, diretor do Instituto do Cérebro de Brasília.
Uma pesquisa realizada pela Universidade de Boston rastreou um mecanismo adicional no elétrico circuito dos encontros. “Ao estar frente a frente com um indivíduo que dê sinais de cultivar gostos parecidos, a tendência é logo achar que ele compartilha uma visão de mundo igual à sua, tomando a parte pelo todo”, alerta o psicólogo Charles Chu, autor da investigação, que serve de ponderação: só mesmo o convívio vai indicar se o par, na alegria ou na aridez do cotidiano, nutre mesmo tantas afinidades essenciais à longevidade da parceria.
Muitas vezes, hobbies e hábitos que satisfazem a ambos são descobertos e alimentados na convivência, como ocorreu com o casal de farmacêuticos Cleide e Paulo Freitas, 55 e 60 anos, respectivamente, já com três décadas de estrada. De cara, tiveram diante de si pelo menos um indício de que algo os unia: devoradores de livros, ambos liam Anna Kariênina, de Tolstói, num retiro de Carnaval. “A conexão foi instantânea”, diz Cleide, que, com o marido, sedimentou novos gostos com o tempo. Evidentemente que o mundo dos afetos não é regido por fórmulas matemáticas e nele cabe de tudo, inclusive a atração dos opostos. O que importa, lembram os especialistas, é que a relação se desenrole sobre bases saudáveis, em que a solidão — um mal da civilização moderna que a Organização Mundial da Saúde acaba de classificar como epidemia (leia abaixo) — saia verdadeiramente de cena.
Só, e bem acompanhado
Se você se sente solitário, não está sozinho. Este é um mal que vem acometendo a civilização em escala planetária — de acordo com uma recente pesquisa do Instituto Meta Gallup, que investigou 142 países, um de cada quatro adultos revela solidão em graus de moderado a elevado. O sinal de alerta acaba de ser aceso pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que classificou o problema como prioridade de saúde global e anunciou a criação de uma comissão com o objetivo de travar um duelo contra esta “ameaça urgente” que se apresenta na forma de “epidemia”. A ideia é traçar estratégias para ajudar os indivíduos a aprofundarem os laços sociais e partirem rumo a novas conexões, algo que a roda da sociedade moderna — acelerada e atada ao universo das redes — compromete em alto grau. “Diante das consequências sociais e à saúde provocadas pela solidão, temos a obrigação de investir com o mesmo vigor em seu combate que dedicamos ao uso de tabaco, à obesidade e à dependência ligada a vícios variados”, enfatiza o médico Vivek Murthy, integrante da comissão da OMS e porta-voz do governo americano para assuntos de saúde.
A ciência já se encarregou de mapear os males provocados pela sensação de isolamento, quando se olha em volta sem encontrar um ouvido com quem compartilhar os altos e baixos da existência. O solitário, segundo estudos, tem maior propensão a registrar disfunções no sistema imunológico e cardiovasculares, como hipertensão, e seu risco de acidente vascular cerebral sobe 30%. No terreno dos hábitos, quem se vê só tende a alimentar uma rotina menos saudável, com índices de consumo de álcool e sedentarismo acima da média. Uma pesquisa da própria OMS, que pesou o quanto todos esses fatores prejudicam o bem-estar, chegou à conclusão preocupante: os malefícios da solidão correspondem ao consumo diário de quinze cigarros.
Existe um termômetro que ajuda a dar a medida da solidão, mesmo sendo tão subjetiva. “Ela pode ser entendida de forma simples, como a diferença entre o número e a qualidade dos relacionamentos que alguém almeja e os que realmente tem”, explica a psicóloga Olivia Remes, especialista em saúde mental da Universidade de Cambridge, na Inglaterra. O ponto central não é exibir uma rede de 1 000 amigos nem tampouco estar envolvido em um relacionamento de pouca troca e significado. “Há muita gente por aí sozinha no meio da multidão”, resume. Vale ainda um lembrete do psicanalista francês Jacques Lacan (1906-1981): a trilha antissolidão não passa necessariamente pelo elo com o mundo exterior, mas pela busca do que desperta “o imaginário e o simbólico”, encontrando interesses genuínos e renovadores do espírito. É quando a pessoa está sozinha, sim, mas muito bem acompanhada.
Ana Hickmann falou pela primeira vez sobre a violência doméstica que sofreu do marido, Alexandre Correa, em entrevista ao Domingo Espetacular. A íntegra da conversa vai ao ar neste domingo (26/11), na Record TV. Em um novo trecho divulgado previamente pelo programa, Ana Hickmann chama o empresário de agressor, covarde e canalha.
“Eu tô falando da figura de um agressor, de um covarde, de um canalha que acha que tem poder e domínio sobre os outros”, disparou, ao conversar com Carolina Ferraz. Em outro momento, ela comenta sobre as dívidas em seu nome. “Eu nunca devi nada pra ninguém e agora eu tô devendo pra banco?”, questionou a apresentadora.
Emocionada, Ana Hickmann revela: “Fui machucada durante muito tempo” Em uma outra chamada da entrevista, divulgada pela emissora, Ana Hickmann desabafou sobre as agressões. “Sou eu que estou aqui machucada e fui machucada durante muito tempo”, declarou, emocionada.
Ainda na entrevista, Ana reafirmou a tentativa de cabeçada de Alexandre. “Ele veio sim pra me dar uma cabeçada”, afirmou. “Comecei a gritar mesmo, porque ele não me soltava. Eu fiquei com medo dele.”
O caso Ana Hickmann Ana Hickmann denunciou Alexandre Correa por violência doméstica após ser agredida durante discussão na residência em que o casal morava, em Itu, interior de São Paulo. A artista buscou atendimento médico no Hospital São Camilo após o episódio e foi diagnostica com lesão no cotovelo esquerdo.
No documento, ela relatou que as agressões começaram na frente do filho do casal, Alezinho, de 10 anos. Alexandre teria começado uma discussão na presença do menino, que ficou assustado com os ânimos dos pais e pediu que ambos parassem de brigar. Como o conflito seguiu, Alezinho saiu correndo no momento em que Correa pressionou Ana contra a parede, ameaçando desferir uma cabeçada contra ela.
Em seguida, Hickmann conseguiu afastar Correa e, ao tentar pegar o celular, que estava em uma área externa da casa, foi surpreendia após ele fechar repentinamente uma porta de correr, ato que pressionou o braço esquerdo da apresentadora. Funcionários da casa também estavam com Ana Hickmann no momento em que a confusão começou. Um deles se apresentou como testemunha e foi citado na delação da artista contra o esposo. Alexandre já tinha saído quando a diligência chegou ao local.